Semana passada
apontamos para a possibilidade de, nos próximos meses, a Feira de Santana
registrar decréscimo na oferta de postos formais de trabalho. Isso utilizando
como base o intervalo entre janeiro e novembro de 2014, cujo saldo positivo,
naquele período, era ínfimo: apenas 577 novas vagas. Pois bem: apurados os
resultados para os 12 meses de 2014 – incluindo aí dezembro – os números do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) são bem mais negativos, já que houve
declínio de 914 vagas.
Conforme
sinalizamos, tudo indicava que a construção civil registraria os números mais
desfavoráveis, em função do arrefecimento do ciclo experimentado pelo setor nos
últimos anos. Esse ciclo, a propósito, resultou em milhares de novos imóveis na
Feira de Santana e no surgimento de bairros inteiros, sobretudo destinados à
habitação popular, além, obviamente, dos milhares de empregos gerados.
Em 2014 essa
bonança foi interrompida: os trabalhadores mais afetados pelo desemprego foram
justamente os da construção civil. Na função de servente de obras – o popular
ajudante de pedreiro – o saldo foi negativo em 546 postos; entre os pedreiros,
o baque foi similar: 557 empregos a menos. Até 2013, essas funções registravam
saldos positivos.
Os melhores
saldos foram observados em duas funções sem vínculos com a construção civil:
auxiliar de escritório em geral, com 372 novos empregos criados; e operador de
telemarketing, com saldo positivo de 211 postos. Nas demais funções, os saldos
não foram tão expressivos, o que acabou contribuindo para o resultado
desfavorável.
Reversão?
Em diversos
textos anteriores apontamos a tendência sempre ascendente do mercado de
trabalho na Feira de Santana, pelo menos ao longo da última década. Em 2001,
por exemplo, o estoque de empregos formais limitava-se a 54,6 mil vagas. Em
janeiro de 2014, antes do início do declínio atual, eram 115,3 mil. Em treze
anos, portanto, o mercado formal mais que dobrou.
Essa expansão
reflete momentos de relativa prosperidade que, curiosamente, ocorreram no
período de maior severidade da crise econômica internacional. Entre 2007 e 2013
foram mais de 35 mil novos empregos, com destaque para 2010, quando exatos
8.022 novos postos foram criados, conforme dados do MTE. À época, o Brasil foi
visto com espanto, por passar ao largo da crise devastadora.
Em 2014, pelo
visto, a fórmula se esgotou. Com isso, o conjunto dos trabalhadores feirenses
experimenta situação mais desfavorável que no início do ano passado, com menos
empregos disponíveis. O quadro ainda é bem melhor que aquele vivido há 14 anos,
mas as tendências preocupam quem acompanha o noticiário econômico.
Recessão?
As medidas
duras adotadas nos últimos dias e o discurso pessimista do ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, sinalizam que 2015 tende a ser mais difícil que o ano passado. É
provável, portanto, que essas expectativas se revertam em menos empregos e mais
dificuldades para o trabalhador feirense.
Como desgraça
pouca é bobagem, o arrocho do Palácio do Planalto combina-se à vertiginosa
marcha da elevação das tarifas, comprimindo os ganhos dos trabalhadores. Subiu
a energia elétrica, a tarifa de ônibus, o IPTU, o salário-mínimo cresce mais devagar
e o Imposto de Renda corrigido abaixo da inflação abocanha parte ainda maior dos
recursos de quem trabalha. Impossível cenário mais deprimente.
Quem governa
costuma exagerar na tintura dos cenários róseos. Muitos, inspirados nessas
matizes, escandalizaram-se com a juventude e as jornadas de junho de 2013.
Talvez, agora, com o esvaziamento do saco de maldades, essas autoridades
comecem a enxergar sentido naquelas vozes que se ergueram para protestar contra
“tudo isso que está aí”...
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