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Marina Silva como fenômeno eleitoral



             
É difícil fazer qualquer análise política, em período eleitoral, sem correr o risco de ferir suscetibilidades. Mas vamos lá: Marina Silva representa, em 2014, um fenômeno eleitoral que não se observa no Brasil desde as primeiras eleições no pós-redemocratização, em 1989. É claro que ela já apresentava, desde 2010, o recall conferido por quase 20 milhões de votos obtidos nas eleições presidenciais daquele ano. Mas não é isso que torna seu ingresso na disputa ímpar. Basicamente, existem quatro motivos.
                O primeiro deles é a própria circunstância de sua ascensão: vice de Eduardo Campos (PSB), foi guinada à condição de candidata à presidência depois do acidente aéreo que vitimou o ex-governador de Pernambuco, em Santos (SP), no início de agosto. Na história recente do Brasil, nenhuma corrida presidencial se processou sob circunstâncias tão trágicas. Daí a dificuldade de se estimar seus efeitos sobre as decisão dos eleitores, eventualmente ainda comovidos pela tragédia.
                O segundo motivo é que Marina Silva, até aqui, galvaniza o sentido das manifestações de junho de 2013, absorvendo muitas das intenções de voto daqueles que se revelaram insatisfeitos com os rumos políticos do País, sobretudo a juventude e a classe média. As próprias pesquisas, à época, captavam que, se a classe política perdia no geral, a ex-senadora do Acre ganhava no particular.
                O terceiro motivo é que Marina Silva lança-se à presidência da República numa situação partidária sui generis: como não deu tempo de criar seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, ela achegou-se ao PSB de Eduardo Campos e é por essa legenda que sai candidata. Já com um acordo firmado que poderá deixar o partido lá adiante, quando sua Rede obtiver o registro formal, mesmo que esteja na presidência da República.
                Por fim, o quarto motivo é que a candidata movimenta-se numa imaginária linha tênue que demarca a polarização entre PT e PSDB há cinco eleições. E seu discurso, abstrato até aqui, tem lhe ajudado contra as investidas dos adversários que, ante a chamada terceira via eleitoral, ainda tateiam em relação à estratégia adequada de confrontação.
                Pois bem: esse conjunto de circunstâncias inusitadas vem dando, até o momento, vitória no segundo turno para Marina Silva, de acordo com diversos institutos de pesquisa. Os próximos dias vão confirmar se o fenômeno subsiste na corrida presidencial ou começa a declinar, como tanto anseiam seus adversários.

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