Semana passada
apresentamos uma digressão gastronômica sobre a Feira de Santana. Nela,
observamos um fenômeno curioso: ao longo das últimas décadas cresceu
significativamente o número de restaurantes à disposição dos feirenses e dos
viajantes que desembarcam na cidade. Nesses estabelecimentos está acessível uma
ampla variedade de pratos e, também, de preços.
Fatores
diversos contribuíram para essas transformações: mais dinheiro no bolso com o
crescimento econômico da última década, maior dificuldade para chegar em casa
em função do aumento dos engarrafamentos e o engajamento crescente das famílias
no mercado de trabalho, o que reduz o tempo disponível para a preparação de
alimentos.
O aquecimento
do setor gastronômico se traduz em efeitos positivos para a economia: mais
restaurantes em funcionamento implica em ampliação na demanda pelos
trabalhadores que, normalmente, integram o staff
desses estabelecimentos: cozinheiros, garçons e chefes de cozinha, além da
mão-de-obra auxiliar.
Para o setor
público, por um lado, os efeitos são altamente desejáveis: cresce a arrecadação
em função do aquecimento da economia. Por outro lado, coloca-se a necessidade
de ajustar a oferta da qualificação profissional para a realidade sempre
mutante, assim como o aprimoramento da intermediação da relação entre
empregados e empregadores.
Mais desafios
O setor de serviços, todavia, produz impactos
ainda mais sensíveis. O mercadejar mais intenso – e mais profissional – do
setor gastronômico impõe a necessidade da manutenção de entrepostos comerciais
em condições adequadas de funcionamento. Nesse processo, perdem relevância as
feiras-livres tradicionais, mais voltadas para o varejo e para as donas-de-casa.
Tornam-se mais fundamentais, nesse caso,
equipamentos como o Centro de Abastecimento. Em entrepostos dessa natureza
empresários encontram ampla variedade de produtos e de preços, sem necessidade
de maiores deslocamentos. Potencialmente, lá, num mesmo espaço, compram-se
carnes, cereais, frutas e verduras no atacado e no varejo.
Coloca-se como
necessidade fundamental, portanto, manter o famoso Centro de Abastecimento em
condições adequadas de funcionamento, para assegurar sua sustentabilidade, o
que não constitui a realidade atual. Afinal, pequenos e médios empresários já
contam com alternativas que começam a concorrer com o entreposto.
Atacadistas
Essa
concorrência localiza-se nos grandes grupos atacadistas com suas imensas lojas.
Instalados em pontos estratégicos, amplos, limpos, relativamente seguros e com
preços que costumam rivalizar com aqueles praticados no Centro de
Abastecimento, esses estabelecimentos atraem desde proprietários de pizzarias
de bairro até quem vende cachorro-quente em carrinhos metálicos, passando pelos
restaurantes com preços populares do centro da cidade.
Em tese, a
maior competição favorece quem se dispõe a pagar por uma refeição pronta, já
que a matéria-prima com preços mais em conta também favorece o dono do restaurante
ou da lanchonete, que pode repassá-los reduzindo o preço final, atraindo mais
clientes. A concorrência coloca-se, assim, como algo salutar e benéfico a
todos.
Ao poder
público cabe um papel regulatório para sustentar essa espiral virtuosa: nesse
caso específico, assegurar a infraestrutura necessária ao Centro de
Abastecimento para que esse se mantenha atraente e competitivo, contribuindo
para manter a concorrência no emergente segmento gastronômico, mantendo
ocupados os milhares de trabalhadores do entreposto.
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