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Recomeça a novela do reajuste da passagem



               
              
Na segunda-feira (07) o feirense amanheceu enfrentando um transtorno adicional, além das tradicionais aporrinhações do dia-a-dia: uma paralisação dos funcionários das empresas de transporte coletivo no município. Enquanto a velha frota descansava nas garagens das empresas, funcionários faziam uma marcha em direção à prefeitura. E cobravam pauta extensa:  recolhimento do FGTS, distribuição do tíquete-refeição, condições adequadas de trabalho e por aí vai. Talvez esse ato represente o ingrediente novo na previsível novela dos reajustes anuais na passagem de ônibus. Afinal, estamos em abril.
Como todos sabem, o reajuste é antecedido por um já conhecido e amarrotado roteiro. O primeiro passo cabe ao sindicato patronal das empresas de ônibus: propõem um risível  índice que, todos sabem, não vai se confirmar lá adiante. Esse ano, porém, foram muito além do limite: cravaram R$ 2,94 durante uma sessão da Câmara Municipal. É trágico, mas também não deixa de ser cômico.
                Lá adiante, o Conselho Municipal de Transportes - CMT entra em cena: propõe um reajuste menor, que é encaminhado ao prefeito. Ressalte-se que essa costuma ser a única reunião do CMT no ano. E com pauta única: reajuste da tarifa. Sequer os incêndios nos ônibus, ocorridos ano passado, mobilizaram o conselho, há tempos esvaziado e desacreditado.
Por fim, o prefeito de plantão chega à boca da cena.  Pretenso “mocinho” da trama, cabe-lhe o papel de anunciar um aumento menor. Quando o faz, desanda a elogiar a decisão equilibrada e sensata que visa conciliar interesses. Invariavelmente, chovem referências às “melhorias” implementadas no transporte público nos últimos anos. É assim que tem ocorrido, sempre no mês de abril e às vésperas da Micareta.
Em 2014, até aqui, o inusitado ficou por conta dessa abrupta paralisação da segunda-feira. Pelo que divulgou a imprensa, surpreendeu até o sindicato da categoria, que alegou nada ter a ver com o episódio. É bom ficar de olho: a manifestação ocorre justamente em abril, período em que, historicamente, empurram-se reajustes goela abaixo do feirense. 

Anacrônico

Qualquer visitante observa facilmente como é anacrônico o sistema de transporte coletivo na Feira de Santana. É perda de tempo falar da velhice da frota, da má conservação dos veículos, da sujeira e da impontualidade. Isso para não mencionar os defeitos frequentes em ruas e avenidas movimentadas. Curioso é que, até meados dos anos 1990, os serviços eram até melhores, mas foram se deteriorando assustadoramente ao longo da última década.
Pois bem: apesar de todos os transtornos causados para os passageiros – que arcam com uma tarifa cara, incompatível com o nível de renda da população e com a qualidade dos serviços prestados – ainda há quem adote discurso terrorista de que as empresas podem “quebrar”. Nas entrelinhas, vai implícita a sugestão de que o feirense é quem deve arcar com o custo da ineficiência das empresas. É a retomada da velha teoria: lucros devem ser privados; já os prejuízos, socializam-se.
Ano passado a juventude invadiu ruas, praças e avenidas cobrando mais qualidade e custo menor para os usuários dos sistemas de transportes. Isso no mês de junho. Na Feira de Santana, as mobilizações surtiram efeito: a prefeitura recuou do aumento concedido em abril, reduzindo o valor da tarifa de R$ 2,50 para R$ 2,35, algum tempo depois. Ainda assim, caríssimo para a qualidade do serviço prestado.
Esse ano, já fustigado pelo reajuste surreal do IPTU, o feirense pode voltar a ser penalizado, pagando mais caro para circular nos velhos veículos que o conduzem ao trabalho ou ao estudo. É aguardar para ver: com as lembranças das jornadas de junho ainda muito vivas na memória, os estudantes feirenses podem ganhar as ruas mais uma vez...

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