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A onda de assaltos às agências bancárias da região



              

Morar perto de agências bancárias está se tornando arriscado no interior da Bahia. Afinal, no silêncio da madrugada e protegidos pela escuridão, dezenas de criminosos vem explodindo caixas eletrônicos interior afora, deixando bancos destruídos, a população apavorada e uma sensação de insegurança pairando onipresente. Em menos de 60 dias foram muitos ataques na região: São Gonçalo dos Campos, Feira de Santana, Coração de Maria e até o outrora pacato distrito de Humildes foi visitado pelo terror das explosões noturnas. Isso para não mencionar ações anteriores.
                Em meados do ano os ataques se intensificaram por uma explicação simples: era época de pagamento do décimo-terceiro salário e os caixas estão mais abastecidos que o habitual. O período explica a intensidade das ações, mas não a desenvoltura dos criminosos. Até bilhete debochado deixaram na agência destruída em Coração de Maria.
                Nos últimos anos, com o aumento da vigilância eletrônica das agências, o modus operandi dos criminosos se modificou, tornando-se mais violento. Protegidos pela cobertura de armas de grosso calibre, lançam explosivos que não apenas arrebentam os equipamentos, mas que também destroem a estrutura dos bancos, causando transtornos à população.
                Além dos ataques aos caixas eletrônicos, os assaltos convencionais às agências também vem se intensificando. Nesses, desafortunados clientes e transeuntes desavisados são compulsoriamente recrutados para compor um cordão de proteção – para os criminosos – que intimida qualquer reação policial. Incontáveis vídeos de ações dessa natureza podem ser visualizados na Internet.
                Na fuga, os criminosos utilizam caminhonetes possantes tomadas de assalto e, com muita frequência, levam parte dos reféns para evitar perseguição policial. Esse método, extremamente violento, passou a ser empregado depois que os aparelhos eletrônicos dificultaram o acesso livre às agências bancárias. É o chamado “Novo Cangaço”, como o batizaram os policiais especializados na investigação desses crimes.

               Ramificação

               O fenômeno do “Novo Cangaço” não é exclusividade baiana. É muito comum em estados de amplas dimensões territoriais, sobretudo nas regiões pouco povoadas e com vegetação densa. Surgiu com quadrilhas que agiam em Mato Grosso e Tocantins, expandindo-se para o Nordeste e o Norte do Brasil.
                A alusão ao cangaço se deve não apenas à violência empregada nas ações,  mas também às estratégias adotadas na fuga: ao invés de escapar por rodovias e estradas vicinais, os criminosos embrenham-se na mata, escondendo-se por vários dias. Quando a vigilância afrouxa, retomam a fuga, às vezes frustrada pela presença da polícia, que já conhece a técnica adotada.
                Na Feira de Santana estão se tornando muito frequentes notícia de prisões de envolvidos em assaltos a agências bancárias. Pelo que noticia a imprensa, parte integra quadrilhas bem organizadas e com elevado poder de fogo. No arsenal que empregam, constam fuzis, metralhadoras e a cobiçada – pelas quadrilhas – metralhadora ponto 50, capaz de perfurar blindagem de carro-forte.
                Pela sua localização geográfica e pelas fragilidades da segurança pública, não é impossível que a Feira de Santana sirva de base de operação para quadrilhas do “Novo Cangaço”. Estão aí as prisões de renomados praticantes dessa modalidade criminosa para justificar essas suspeitas. Estão aí, também, as ações recentes em municípios nem tão distantes da “Princesa do Sertão”.
                O fato é que as quase 200 ocorrências registradas na Bahia em 2013 – quatro delas em um único dia no início de dezembro – mostra que, ao lado do aumento vigoroso no número de homicídios, os assaltos às agências bancárias exigem mais atenção das autoridades e mais capacidade investigativa da polícia.

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