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Bolsa Família como política de Estado



              
             
O senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à presidência da República, teve uma iniciativa muito feliz: apresentou a proposta de incorporar o Programa Bolsa Família (PBF) à Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). O projeto tramita no Congresso Nacional, contando com pareceres favoráveis. Segundo justifica o senador mineiro, a ideia é tornar o Bolsa Família uma política de Estado e não de governo, como ainda é hoje. Esperto, antecipa-se a estratégia eleitoral petista de invariavelmente acusar os adversários de pretender extinguir o programa.
                 Ano que vem, quando soarem os tambores eleitorais, certamente Aécio Neves vai tentar capitalizar a iniciativa no horário eleitoral, o que é perfeitamente natural. Mas, com uso eleitoreiro ou não, a proposta é muito bem vinda. Os milhões de brasileiros que dependem dos recursos repassados pelo programa necessitam da certeza de que nenhuma marola partidária pode comprometer a continuidade do programa.
                Conforme palavras do próprio Aécio Neves, o Bolsa Família vai se tornar “política de Estado e não de governo”. Estará a salvo, portanto, das incertezas que rondam a política partidária. A decisão é para ser comemorada: controverso, o PBF foi torpedeado de maneira implacável nos seus primórdios.
                Lá por volta de 2006, nas eleições presidenciais, os beneficiários do programa foram fustigados com adjetivos impiedosos: preguiçosos, indolentes, acomodados e por aí vai. Até membros da Igreja Católica criticaram a iniciativa. A postura revela bem os sólidos resquícios escravocratas ainda vigentes no País. Com o passar dos anos, porém, os ânimos foram serenando e o PBF se afirmou a partir dos seus resultados. A iniciativa de Aécio Neves, senador de oposição, apenas referenda os êxitos do programa.
                Mais além
                Apesar do inegável sucesso, o Bolsa Família é uma política emergencial voltada para produzir efeitos no curto prazo. Mitiga a fome e atenua algumas necessidades essenciais, serve como estímulo para a manutenção de crianças e adolescentes na escola, mas é limitada quando se planejam soluções perenes para a emancipação sustentada dos indivíduos.
                Uma necessidade fundamental para isso – tão exaustivamente mencionada – é a melhoria na educação. Com qualificação adequada, os indivíduos reduzem as possibilidade de depender do apoio financeiro dos governos. A educação por si só, porém, não faz milagres: se a sociedade não oferecer oportunidades, os investimentos em educação vão se mostrar inócuos.
                O desenvolvimento do Brasil dependerá, cada vez mais, de políticas mais sólidas de redução das imensas desigualdades econômicas e sociais. Descontando os países em guerra, temos a pior distribuição de renda do planeta. O Bolsa Família ajudou a reduzir a imensa pobreza, mas os desafios não se esgotam por aí.
                Promessas
                Ano que vem, na campanha eleitoral, vão pulular promessas de um Brasil melhor nos próximos quatro anos. Para alguns brasileiros, porém, o País precisa melhorar mais: justamente para aqueles que vivem à margem dos frutos do progresso e que necessitam mais das políticas do Estado. É a necessidade de incluir os segmentos da população que pouco participam do banquete do progresso o maior desafio do próximo presidente.
                Talvez o gesto do senador Aécio Neves represente, simbolicamente, o final de um ciclo: o da inclusão no circuito do consumo de milhões de brasileiros que permaneciam à margem de direitos essenciais e da própria História. Capitaneado pelo PT, o processo ganha o status de política de Estado através do gesto de um senador do PSDB.
Mas, como já se apontou, a batalha não se encerra aí. Talvez tenhamos apenas evoluído de um estágio de barbárie camuflada para um ponto de partida que os países desenvolvidos – e diversos países em desenvolvimento – já alcançaram há muitas décadas: o de impedir que parcela significativa de sua população corra o risco de morrer de fome. Resta, agora, aguardar as promessas de quem se dispõe a conduzir os próximos passos...


                   

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