Pular para o conteúdo principal

Efeitos do salário-mínimo sobre a economia feirense

Depois de muita polêmica, foi enfim aprovado na semana passada o valor do novo salário-mínimo, fixado em R$ 545. Para além de toda as divergências decorrentes do percentual a ser aplicado, o mais importante foi o fato que, enfim, o Brasil começar a ter uma política consistente e previsível de reajuste, com vigência programada para pelo menos quatro anos. Mais do que uma sinalização de clareza em relação às contas públicas para o próximo quadriênio, a adoção da regra facilita a vida do trabalhador e permite aos empresários programar investimentos e projetar a contratação de mão-de-obra.
Nos estados e municípios mais ricos o salário-mínimo não constitui uma referência muito utilizada, já que normalmente se paga mais aos trabalhadores. Os trabalhadores mais qualificados, por sua vez, dispõem de renda mais elevada e não necessariamente utilizam o salário-mínimo como referência em negociações salariais.
O salário-mínimo, no entanto, constitui referência importante – e em muitos casos única – para aposentadorias e pensões, benefícios sociais, remunerações em prefeituras e estados mais pobres e, em algumas regiões, serve como referência para o pagamento dos serviços prestados por trabalhadores autônomos.
Na Feira de Santana o salário-mínimo é referência em muitos segmentos. No comércio – que emprega parcela expressiva da mão-de-obra local – o valor costuma ser empregado nas negociações salariais; muitas empresas prestadoras de serviços pagam o salário-mínimo para seus empregados; e muitos funcionários públicos têm rendimentos nessa faixa salarial.

Economia Feirense

Se o reajuste do salário-mínimo é a mais importante referência para trabalhadores e empregadores, os efeitos sobre a economia feirense são mais do que óbvios. Principalmente porque o município polariza o comércio e os serviços num entorno amplo, cuja maior parte dos trabalhadores situa-se na mesma faixa de renda em dezenas de municípios.
Assim, mesmo com as incertezas que cercam as previsões sobre o desempenho da economia no médio prazo – e, em muitos casos, até no curto prazo – as perspectivas para a economia feirense se desenham mais claras, com possibilidades de planejamento mais eficiente para os próximos anos, justamente em função dessa política que se desenha de forma mais transparente.
O certo é que os segmentos empresariais cuja clientela situa-se nessa faixa de remuneração serão beneficiados com a continuidade da política de valorização do salário-mínimo, que vem contribuindo para a redução das desigualdades sociais existentes no Brasil.

Possibilidades

Alguns setores já são visivelmente beneficiados, como o imobiliário, principalmente com o crescimento na venda de imóveis populares e o de veículos automotivos, com destaque para a venda de motocicletas. A chamada classe C, no entanto, também vem impulsionando os negócios nos setores de comércio e serviços, tendo acesso a produtos que antes não figuravam entre suas possibilidades.
A desenvoltura crescente da classe C sinaliza para um período de prosperidade para a Feira de Santana, habitada majoritariamente por pessoas nessa faixa de renda, mas que também tende a ser beneficiada pela presença de consumidores de outros municípios com poder aquisitivo similar.
A política de valorização do salário-mínimo implementada ao longo da última década é visível nas ruas e praças da Feira de Santana. No centro do município são observáveis engarrafamentos inéditos, o passo apressado dos transeuntes que tocam seus negócios e o movimento intenso nas lojas, mesmo nos meses distantes dos períodos festivos ou das tradicionais liquidações.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...

O futuro das feiras-livres

Os rumos das atividades comerciais são ditados pelos hábitos dos consumidores. A constatação, que é óbvia, se aplica até mesmo aos gêneros de primeira necessidade, como os alimentos. As mudanças no comportamento dos indivíduos favorecem o surgimento de novas atividades comerciais, assim como põem em xeque antigas estratégias de comercialização. A maioria dessas mudanças, porém, ocorre de forma lenta, diluindo a percepção sobre a profundidade e a extensão. Atualmente, por exemplo, vivemos a prolongada transição que tirou as feiras-livres do centro das atividades comerciais. A origem das feiras-livres como estratégia de comercialização surgiu na Idade Média, quando as cidades começavam a florescer. Algumas das maiores cidades européias modernas são frutos das feiras que se organizavam com o propósito de permitir que produtores de distintas localidades comercializassem seus produtos. As distâncias, as dificuldades de locomoção e a intermitência das safras exigiam uma solução que as feiras...