É chover no molhado afirmar que a Internet provocou uma revolução na vida das pessoas desde meados da década de 1990. Essa revolução, a propósito, permanece em curso, já que a rede virtual aprofunda e amplifica relações, que vão desde a prosaica aquisição e um produto qualquer – praticamente já se vende de tudo na Internet – até o início e consolidação de relacionamentos amorosos, passando pelo acesso cômodo e rápido a serviços diversos e até à banal busca por informações. Estatísticas que divulgam o tempo que as pessoas passam em frente ao computador ou a ampliação do acesso pelo conjunto da população reforçam as evidências.
Muitos segmentos foram fortemente afetados pelo surgimento da rede. Entre eles está o jornalismo. Quando comecei na imprensa em 1995, os papeis ainda eram razoavelmente estanques: jornais impressos de um lado, emissoras de rádio do outro e as emissoras de tevê pairando, onipotentes, sobre o universo da comunicação. A Internet já havia surgido, mas poucos apostavam numa disseminação tão avassaladora num espaço tão curto de tempo.
Hoje um único portal de Internet pode combinar as três formas de mídia sem embaraços. O conceito de meio de comunicação se subverteu e houve uma profunda diversificação, com a proliferação de blogs, sites e outros recursos de comunicação, como o twitter.
É perfeitamente natural que o fenômeno provoque a febre que atrai incontáveis pessoas para a órbita da comunicação. E, como as recentes eleições provaram, a classe política mergulhou de forma voraz, produzindo e explorando notícias, torpedeando adversários e mobilizando seguidores engajados na produção de verdades, de meias-verdades e de inverdades.
Influência
Já é incontestável a influência que os políticos exercem sobre a produção e difusão de notícias na Internet. Um exemplo é o processo eleitoral: depois de apurados os resultados, muitos esquecerem que eleição agora só em 2012 e que o momento é de se voltar para os problemas que afligem o Brasil e a Bahia ou de dar continuidade àquilo que marcha de forma adequada.
Assim, nada de produzir notícia sobre o que é relevante para o público: afora os fuxicos sobre rateio ministerial, indicações para cargos públicos ou eleições para presidir parlamentos, nada se fala sobre o presente. A “bola da vez” são as eleições de 2012, antecipadas pelos derrotados em 2010 ou pelos que pretendem alçar vôos maiores no próximo ano.
Depois de conviver com um incômodo debate eleitoral que se arrastou por três meses, os brasileiros já são forçados a ouvir especulações sobre 2012, como se os projetos pessoais de “vossas excelências” fossem mais importantes que o dia-a-dia dos mortais comuns que vivem afastados dos círculos do poder. Ou como se esses dessem elevada importância aos fuxicos palacianos.
Expectativa
Muitos políticos – espertamente – lançam “factóides” para se conservar em evidência: é o “partido X” que debate a reestruturação visando ganhar a próxima eleição, é o “parlamentar Y” que anuncia com estardalhaço que pretende abandonar antigos parceiros de consórcio eleitoral e por aí vai. Com dois cliques o internauta é tragado pela torrente de notícias de relevância duvidosa.
Um das causas é a histórica relação entre profissionais da imprensa e determinados políticos ou grupos políticos. A outra razão é o custo elevado para se fazer jornalismo com qualidade: é muito mais cômodo e barato, por exemplo, acompanhar sessões legislativas ou os bastidores do Executivo que fazer reportagens mais consistentes, mas que envolvem custos elevados.
Eventuais restrições financeiras, no entanto, não são impedimento para o profissional da imprensa distinguir o que tem relevância daquilo que é fofoca ou “balão de ensaio” para assegurar sobrevida a políticos eleitoralmente cambaleantes. Infelizmente, as versões avidamente produzidas e divulgadas valem bem mais que verdades que se buscam com mais esforço.
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