Provavelmente lá por meados dos anos 1940, quando a comunicação vivia uma fase revolucionária com a ampliação das emissões radiofônicas, é que devem ter surgido os primeiros alto-falantes nas feiras-livres do Nordeste. Além do presumível espanto causado numa população pouco afeita à tecnologia que surgia avassaladora, com certeza os alto-falantes mostraram-se, desde o início, uma excelente e barata alternativa para divulgação de produtos e serviços.
O fato é que a moda pegou e, ainda hoje, mesmo com o incessante burburinho característico de comerciantes e consumidores, soa estranhamente silenciosa qualquer feira-livre em que não se recorra aos inconfundíveis e onipresentes alto-falantes. Pendurados em postes ou mastros improvisados, com fios emaranhados, incorporaram-se em definitivo à cultura dos mercados nordestinos.
Estão presentes no Centro de Abastecimento da Feira de Santana – tocando músicas, anunciando produtos, mandando abraços especiais para ouvintes ou registrando presenças em estúdios – e também nas feiras de bairros nos finais-de-semana.
A influência dos alto-falantes, todavia, não se esgota com as feiras-livres. Nos festejos juninos ou nas festas natalinas ouvem-se as canções características da época enquanto a multidão caminha apressada indo às compras nas ruas do centro comercial. Nos intervalos, vozes anunciam produtos que podem ser encontrados nas imediações, no calçadão da Sales Barbosa ou logo ali, na praça dos Remédios.
Carros de som
Essa cultura auditiva, porém, não se esgotou com os alto-falantes estáticos nos postes. A combinação da tecnologia automotiva com a comunicação rendeu os carros-de-som que circulam pelo centro da Feira de Santana e de centenas de cidades nordestinas, alcançando o público mais disperso, convidando-o às compras.
A sonorização automotiva virou ramo empresarial, emprega muita gente, demanda equipamentos, agrega tecnologia, produz inovação. Também se tornou a principal fonte de renda de muitos locutores que, sob o calor insano dos dias de verão, circulam atraindo consumidores, mandando alôs para conhecidos e transeuntes.
No passado, quando os silêncios dos municípios nordestinos eram mais profundos, as vozes metálicas transpunham os limites das feiras, sobrepunham-se ao casario, iam morrer nas colinas verdejantes que circundam as cidades. Hoje os motores insistentes e as buzinas escandalosas dos carros e motos abafam os sons, confundindo-se com eles, diluindo-os na barulheira coletiva.
Cultura
O alto-falante conquistou também os vendedores das ervas medicinais que curam diversas doenças e que – ainda hoje – vendem suas poções nas feiras ou nas praças mais rentáveis do centro da cidade às segundas-feiras. O som estridente está sempre lá, advertindo os passantes de que a cura para os problemas crônicos que os afligem estão logo ali, ao alcance da mão e do bolso.
Todas essas criativas manifestações de sonoridade, no entanto, permanecem tributárias do serviço de som, pioneiro, implantado num ano longínquo do século XX. Talvez seja essa tecnologia antiga, mas tão atual na forma de comunicar, que dê o tom nostálgico aos serviços de som que permanecem tão vivos nos dias atuais.
Transitar pelo Centro de Abastecimento perde parte da satisfação quando os alto-falantes não estão tocando uma música qualquer, divulgando produtos disponíveis nalgum boxe ou, simplesmente, transmitindo alguma informação de utilidade pública para o freqüentador.
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