Toda a Bahia vem acompanhando com atenção o noticiário sobre os graves problemas políticos e administrativos que afligem Salvador, governada pelo feirense João Henrique Carneiro (PMDB). De liderança emergente na disputa pela reeleição em 2008 – quando uma aliança heterogênea reuniu na mesma base de apoio os ex-governadores Paulo Souto (DEM) João Durval Carneiro (PDT) e César Borges (PR), além do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) – o prefeito neste início de 2011 mergulhou num inferno astral que o conduziu a um limbo político que deve arrastar-se até o final do seu mandato em 2012.
Graves problemas na prestação de contas de 2009 – quando a prefeitura gastou muito mais do que arrecadou – levaram o prefeito a mexer no secretariado, a elevar impostos municipais para compensar o rombo nos cofres públicos e a articular uma atabalhoada operação na Câmara Municipal para rejeitar o parecer do Tribunal de Contas que recomenda, de forma unânime, a rejeição das contas da prefeitura. Caso os vereadores aprovem o parecer, o prefeito fica inelegível por oito anos.
É curiosa a trajetória do feirense João Henrique Carneiro à frente da prefeitura de Salvador. Em 2004 ele “atropelou” o ex-governador César Borges (então no PFL) no segundo turno das eleições municipais e sepultou a hegemonia conservadora que parecia imbatível na Bahia.
Naquele momento, a eleição de João Henrique Carneiro representou um bafejo renovador nos repetitivos processos eleitorais baianos. Dois anos depois nova proeza familiar: o ex-governador João Durval Carneiro elegeu-se para o Senado derrotando o candidato do PFL, Rodolpho Tourinho. No mesmo embalo, Jaques Wagner (PT) venceu Paulo Souto no primeiro turno, tornando-se o primeiro governador petista da Bahia e encerrando 16 anos de hegemonia do PFL.
Queda
Curioso é que a aliança mais à esquerda que ajudou a eleger João Henrique Carneiro começou a desandar exatamente aí. Vieram os primeiros atritos com o PT e demais aliados, muitos problemas administrativos e, ao que parecia, João Henrique estava fadado a deixar a prefeitura após as eleições de 2008.
Mas eis que o prefeito reage e, numa eleição disputadíssima, se reelege com o suporte do ex-ministro Geddel Vieira Lima e com a adesão natural dos adversários derrotados em 2004 que aceitariam tudo, menos uma vitória de Walter Pinheiro (PT). Ali parecia que o finado carlismo ganhava algum fôlego mas o principal vencedor era, sem dúvida, o ex-ministro Geddel Vieira Lima.
Todos os partidos que deram suporte à reeleição de João Henrique Carneiro aboletaram-se na administração municipal. Vieram os conflitos, os desentendimentos e as eleições de 2010. A derrota inapelável de Vieira Lima e Paulo Souto para governador expôs as rusgas da oposição e, no início de 2011, o rompimento formal com o prefeito.
Interesses individuais
Ao leitor desatento parecerá que os últimos sete anos da prefeitura de Salvador foram marcados por uma sucessão de cenários traçados ao sabor de interesses individuais ou de grupos familiares. E estará certo: a crônica da administração da capital baiana desses dias é a crônica dos duelos de meia-dúzia de políticos tradicionais em busca do butim eleitoral.
Não é à toa que os problemas de Salvador saltam aos olhos: saúde precária, educação ruim, violência galopante, engarrafamentos sem-fim, servidores com salários atrasados e a abjeta retórica dos políticos se sucedendo, farsante e inútil. As eleições 2012 já estão na rua na capital.
Na Feira de Santana ainda se respira um pouco. Os interesses pessoais, aparentemente, ainda não atropelaram a necessidade de se administrar o município, antecipando eleições e tornando o intervalo entre os pleitos interminável e desgastante para quem briga pelo poder e só pelo poder. Talvez seja o fato da Feira de Santana ter um prefeito que pode se reeleger. Talvez. O certo é que no meio desse tiroteio, existe o interesse dos munícipes embora, para muitos, isso não passe de um detalhe.
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