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Feira e a ponte Salvador-Itaparica


           
 
            Durante a campanha eleitoral causou furor a declaração do governador reeleito Jaques Wagner (PT) de que no segundo mandato daria início a construção da ponte entre Salvador e a Ilha de Itaparica. Depois das eleições o chefe do Executivo manteve a proposta e, ao que parece, a obra deve sair do papel, embora o início da construção ainda leve tempo, em função da própria magnitude do empreendimento e de todas as etapas burocráticas que devem ser cumpridas. Assim, o que para alguns inicialmente parecia devaneio ou promessa de campanha vai aos poucos se firmando.
            Mais cedo ou mais tarde a idéia surgiria e tomaria forma. Majoritariamente cercada pelo mar, Salvador não tem mais para onde crescer e apresenta uma das mais altas taxas de concentração populacional do Brasil. As alternativas pelo Litoral Norte estão praticamente esgotadas e a ilha está logo ali, ao alcance da vista com todos os seus contornos.
            No entanto, o boom imobiliário vivido pela capital, por si só, não justifica a iniciativa. São necessários outros atrativos, o que a ponte possui. O mais tentador deles é a possibilidade de se encurtar distâncias entre várias regiões do Estado e  capital. É evidente que alguns municípios do Recôncavo e o Baixo Sul seriam os principais beneficiados, pois os deslocamentos seriam reduzidos em horas, evitando um longo retorno pela BR 101.
            As vantagens, porém, não se esgotam aí. Com algum investimento é possível ligar a BR 242 – no rio Paraguaçu – com a Ilha de Itaparica e com Salvador. Também é visível a economia de tempo e de dinheiro para as regiões mais afastadas da capital – Chapada Diamantina e Oeste Baiano – com a construção de uma nova via.

            Efeitos

            A ponte Salvador-Itaparica também beneficiaria bastante o eixo Ilhéus-Itabuna, reduzindo as distâncias pelo litoral. A obra seria particularmente bem-vinda com a reinserção dinâmica da economia do Sul da Bahia a partir da construção do hub logístico que inclui um porto, a ferrovia Oeste-Leste e um novo aeroporto em Ilhéus.
            Caso concretizadas essas obras nos próximos seis ou oito anos, os corredores de circulação da economia baiana sofrerão mudanças radicais. A Feira de Santana, particularmente, vai sofrer impactos significativos, pois perderá influência deixando de ser o corredor tradicional de praticamente todas as regiões baianas, tal como se conhece hoje.
             Os efeitos sobre a economia feirense provavelmente irão além da mera diminuição do papel de corredor de circulação. Afinal, a Feira de Santana deixará de ser a única alternativa logística para muitas empresas e a reconfiguração da malha viária beneficiará outros municípios com vocação comercial, como é o caso de Santo Antônio de Jesus.

            Perspectivas

            É claro que mudanças do gênero, conforme apontado em artigo anterior, não ocorrem subitamente e a percepção das transformações se dilui com o tempo. O fato, porém, é que as autoridades feirenses devem ficar atentas para as transformações em curso e buscar alternativas que sustentem o dinamismo econômico, particularmente comercial, do município.
            Fala-se na reativação do aeroporto – para operações de carga e até mesmo para o transporte de passageiros – e na construção de uma plataforma logística no município. Se os investimentos se confirmarem, é óbvio que haverá alguma compensação, com a Feira de Santana incorporando novos equipamentos que contribuirão para o desenvolvimento econômico do município.
            O alcance dos efeitos da construção da já polêmica ponte ligando Salvador a Itaparica, no entanto, ainda não são possíveis de mensurar, principalmente quando se considera que obras secundárias podem potencializá-la. O que já é certo, porém, é que pensar o desenvolvimento da Feira de Santana não é mais possível com os cenários com os quais tradicionalmente se trabalhava.

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