Embora ainda seja março, políticos desempregados e representantes de outras categorias menos cotadas já colocaram a campanha eleitoral na rua, aporrinhando o eleitor que tem ocupações mais nobres (trabalhar, estudar, cuidar da família, etc) com discursos vazios produzidos sob encomenda por agências de publicidade. Satanizam-se adversários, mensoprezam-se realizações dos concorrentes, reforça-se o discurso da “acessibilidade” dos candidatos e do “diálogo” com o povo porque, julgam alguns, essas práticas estão em moda e aderir a “modismos” sempre ajuda em períodos eleitorais.
Um vício antigo que permanece é o da promessa vazia. Começou em 1986, nas primeiras eleições do pós-ditadura militar e permanece até hoje. Saúde, educação e segurança pública são garantidas nos palanques a cada dois anos, mas infelizmente, ainda estão distantes de se constituir realidade, pelo menos com a qualidade necessária. Tanto que todo político tem plano de saúde privado, matricula os filhos em escolas particulares e conta com exércitos de seguranças, capangas e puxa-sacos para protegê-los.
Outro vício que ainda está longe de ser corrigido é o de usar cargos públicos para empregar cabos eleitorais, familiares de correligionários falidos ou simplesmente quem dispõe de uma “cartinha” fornecida por um amigo do peito influente. Poucos são os concursos públicos e, quando ocorrem, nem sempre implicam na necessária redução dos ocupantes de cargos de “confiança”.
Por fim, às vésperas dos períodos eleitorais, emerge o adesismo mais deslavado a quem está no poder. Quando a Bahia tinha coronel, quase todos se acomodavam na cozinha ou no alpendre da casa do coronel – a sala de visitas era para pouquíssimos iniciados –. Os tempos hoje são outros, mas o adesismo permanece como vício entre lobos que perderam a pele.
Mudanças
Nos últimos dias, leitores e telespectadores – e, em última instância, eleitores em outubro – foram bombardeados com discursos sobre o crescimento da economia em 2009, expresso através do Produto Interno Bruto (PIB). Impossível conter, nessas ocasiões, o ufanismo canastrão de que a Bahia cresce mais ou menos que o Brasil, que perde posições para Pernambuco ou Ceará, que o PIB comporta-se assim ou assado.
A pergunta que o eleitor deve ter em mente é: a economia deve crescer para quem? Para os trabalhadores, através da geração de postos de trabalho ou para segmentos que geram poucos empregos, mas que ajudam políticos a sustentar discursos megalomaníacos em períodos eleitorais?
Crescimento não é, necessariamente, sinônimo de desenvolvimento. De que adianta à Bahia o sexto maior PIB, se há poucos anos havia mais de dois milhões de analfabetos no estado? De que adiantam empresas moderníssimas se milhares que passam dificuldades e até fome não têm a mínima chance de obter emprego nessas empresas?
Inserção Social
Para além da retórica eleitoral vazia, os eleitores devem dedicar atenção especial a essas questões. O que se pretende fazer para incluir econômica e socialmente a população do semiárido? Quando a Bahia vai erradicar o analfabetismo? Quando os baianos terão um sistema público de saúde que dispense as incontáveis viagens de ambulância para Salvador? A aplicação dos recursos públicos será transparente, com os cidadãos tendo acesso às informações?
Nos últimos anos, outros temas incorporaram-se ao cotidiano: quando o extermínio de baianos pelos incontáveis homicídios vai ter fim? Qual o compromisso dos governantes com o combate à corrupção, com o desvio de rios de dinheiro público, como aconteceu recentemente em Brasília na gestão de Zé Arruda?
Para além do sorriso afável, da foto antiga anterior à calvície, do discurso calculado milimetricamente por marqueteiros contratados a peso de ouro é necessário conteúdo. Esse conteúdo só vem à tona, todavia, quando o eleitor cobra ou fica alerta para o que dizem e o que fizeram vossas excelências os políticos, empregados ou não...
Parabéns por seu artigo, como sempre bem objetivo, pertinente e esclarecedor.O discurso da maioria dos candidatos tanto do legislativo como do executivo é muito bonito e ético, o inverso,na prática é a prática que mantém a corrupção em benefício dos grupos financeiros que os elegem.Permita-me uma observação,o link do seu blog no FSonline está errado.Forte abraço,
ResponderExcluirEduardo Leite
www.eduardoleite.blogspot.com