Pular para o conteúdo principal

Vantagens de um governador feirense


As obras mais importantes da história recente de Feira de Santana foram tocadas pelo governador João Durval Carneiro e pelo prefeito José Falcão da Silva, no quadriênio em que estiveram juntos no poder, entre 1983 e 1987. Curiosamente, o município foi favorecido num período histórico em que o Brasil enfrentava severas turbulências: crise da dívida externa – com a decretação de uma moratória em 1987 -, recessão econômica, desmantelamento da Ditadura Militar que finalmente ruía e os desarranjos na administração pública decorrentes desses problemas.

Uma das obras mais importantes foi o canal de macro-drenagem que, hoje, todos conhecem como Avenida Canal. Antes, ali era um riacho barrento para onde escorria o esgoto dos bairros limítrofes e que acolhia, nos períodos chuvosos, as águas da trovoadas e das chuvas de inverno. Era um lodaçal que prejudicava, particularmente, os moradores das imediações, como o bairro Rua Nova.

Outra obra relevante foi a implantação de rede de esgoto pela cidade. Bairros como Sobradinho e Barroquinha foram beneficiados, encerrando o triste espetáculo da lama que, escura e viscosa, descia pelas pedras do calçamento. Particularmente em 1983, foi comum se ver escavadeiras cavoucando o solo úmido feirense para a colocação de inúmeras manilhas.

Dois anos depois, em agosto de 1985, o Jóia da Princesa foi reinaugurado com um jogo noturno entre Fluminense de Feira e Vasco da Gama. Com um gol do centroavante Paulo, de cabeça, o tricolor fez a festa da torcida feirense, que passava a contar com o mais moderno estádio do interior, ampliado com a construção de arquibancadas que fecharam a antiga “ferradura”.


Outras Obras

À época, outra obra marcante foi a construção de um novo Campo do Gado, condizente para o abate de animais sob melhores condições higiênicas. O novo entreposto, ainda hoje em funcionamento, localiza-se nas imediações do bairro Pampalona e encerrou o longo período de existência do antigo Campo do Gado, que funcionava sob condições precárias.

Oito anos depois de inaugurado, o Centro de Abastecimento passou por uma ampla reforma, que melhorou as condições de acesso àquele entreposto, facilitando a vida de consumidores e comerciantes. Essas duas obras, a propósito, foram tocadas pelo prefeito José Falcão da Silva.

Houve também tempo para o melhoramento de vias importantes no município, como as avenidas que, para variar, ganharam os nomes do governador João Durval e do prefeito José Falcão da Silva. Houve ainda um expressivo salto em termos de urbanização, com o calçamento de inúmeras ruas na periferia que se expandia sob o ritmo veloz das migrações e do crescimento populacional.

Hoje

O cenário econômico era desfavorável, mas as finanças públicas, à época, tinham menores restrições que na recente década. Afinal, surgiram limitações de natureza fiscal – como a Lei de Responsabilidade Fiscal – e o novo arranjo orçamentário, que estabeleceu rubricas com percentuais fixos para áreas como Saúde e Educação, restringiu a liberdade de alocação dos recursos em obras, por exemplo.

O fator determinante para a prodigalidade com Feira de Santana, porém, parece ter sido o fato do município ter como governador alguém nascido na cidade e que aqui tinha sua base eleitoral. Essa, inclusive, é uma tendência natural na política. Uma evidência é que, nas gestões que se seguiram, Feira de Santana não recebeu grande atenção dos governadores, por mais que se diga o contrário.

Em 2010 haverá eleição para o Governo da Bahia. É evidente que a decisão do eleitor não se orienta apenas pela naturalidade ou domicílio político dos candidatos. Mas é necessário o exercício para se saber o que se fez, o que se faz e o que se diz que foi feito, jogando com a alegada falta de memória da população.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

“Um dia de domingo” na tarde de sábado

  Foi num final de tarde de sábado. Aquela escuridão azulada, típica do entardecer, já se irradiava pelo céu de nuvens acinzentadas. No Cruzeiro, as primeiras sombras envolviam as árvores esguias, o casario acanhado, os pedestres vivazes, os automóveis que avançavam pelas cercanias. No bar antigo – era escuro, piso áspero, paredes descoradas, mesas e cadeiras plásticas – a clientela espalhava-se pelas mesas, litrinhos e litrões esvaziando-se com regularidade. Foi quando o aparelho de som lançou a canção inesperada: “ ... Eu preciso te falar, Te encontrar de qualquer jeito Pra sentar e conversar, Depois andar de encontro ao vento”. Na mesa da calçada, um sujeito de camiseta regata e bermuda de surfista suspendeu a ruidosa conversa, esticou as pernas, sacudiu os pés enfiados numa sandália de dedo. Os olhos percorriam as árvores, a torre da igreja do outro lado da praça, os táxis estacionados. No que pensava? Difícil descobrir. Mas contraiu o rosto numa careta breve, uma express