Uma rápida passagem pelo Centro de Abastecimento (CAF) mostra que o entreposto caminha para a plena saturação de seu espaço físico. Afinal, algumas áreas onde antes o mato crescia preguiçosamente, foram ocupadas por galpões e fardos de feijão e farinha que carregadores transportam num vaivém incessante, contrastando com a freguesia que, calmamente, avalia os produtos expostos. A construção do restaurante popular tornou a situação mais complicada, pois absorveu boa parte do espaço ocioso disponível.
O futuro acena, portanto, com a necessidade de se promover a ampliação daquele entreposto comercial. Uma das razões é o crescimento natural do comércio e o maior intercâmbio entre Feira de Santana e as demais cidades da região. Esse processo tende a atrair mais consumidores, elevando o número de pessoas circulando pelos já exíguos e escuros corredores do CAF.
Outros fatores, no entanto, vêm contribuindo para adensar a clientela que circula por ali e pelo centro da cidade. Um deles são os programas de transferência de renda, como as aposentadorias, pensões e o próprio Bolsa Família. Afinal, pessoas que nas décadas anteriores dependiam das safras incertas ou que recebiam ínfimas aposentadorias atualmente dispõem de fluxos de renda contínuos e que não mais se subordinam às incertezas climáticas da região.
Dessa forma, o número apreciável de brasileiros incorporados ao mercado consumidor nos últimos anos naturalmente constitui parte dos frequentadores do Centro de Abastecimento, na região de Feira de Santana. Isso implica noutro desdobramento positivo – onde há demanda, está desenhado o cenário para o aumento da oferta.
Agricultura familiar
No Centro de Abastecimento, a oferta tende a ser suprida por agricultores familiares da região. São os que plantam mandioca e produzem farinha, os que plantam feijão e o milho dos festejos juninos, os que se dedicam ao cultivo de hortaliças, verduras e legumes nos municípios próximos e os produtores feirenses do caju que colore os balaios no mês de janeiro.
Elevando-se a renda dos agricultores familiares, cresce a demanda por outros produtos (roupas, calçados, eletrodomésticos), o que realimenta o ciclo virtuoso que vem reduzindo a pobreza no Brasil, gerando o emprego e a renda que geram postos de trabalho não apenas no campo, mas também nas cidades.
A sustentação desse ciclo, porém, exige investimentos em infraestrutura, como a ampliação do CAF aludida acima. Essa ampliação, todavia, deve se dar sob uma perspectiva moderna, que articule a oferta de uma série de produtos e serviços em um mesmo espaço e, ao mesmo tempo, fortaleça a identidade e a cultura locais.
Futuro
O Centro de Abastecimento deve deixar de ser um entreposto sombrio e sujo, onde o lixo se acumula pelos corredores e os balcões onde se expõem os produtos são cinzentos e empoeirados. Inaugurado em meados da década de 1970, o CAF sofreu poucas intervenções desde então e assemelha-se a uma feira livre da Idade Média, preservando muito pouco da vida que fluía intensa quando a feira acontecia no centro da cidade.
No Brasil, o Mercado do Ver-o-Peso, em Belém do Pará, pode ser visto como uma referência que uniu a riqueza cultural e o mercadejar típico das grandes feiras livres. Em meados da década de 1990, naquele entreposto a lama das chuvas escorria entre as barracas de madeira que expunham legumes e verduras, numa situação pior que o CAF atual. Hoje, o mercado paraense é referência em urbanização e concentração de riquezas naturais e culturais da Amazônia.
Se em Feira de Santana sobra dinheiro para construir viadutos, que são obras que exigem sofisticados estudos e obras de engenharia, certamente dá para acomodar nos orçamentos dos próximos anos um estudo amplo e qualificado para a ampliação do Centro de Abastecimento. Afinal, é da riqueza da feira livre que deriva o nome da cidade que os viadutos ornamentam...
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