Os ataques a módulos policiais e os incêndios de ônibus na periferia de Salvador mostram que o modus operandi do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa paulista, começa a se disseminar Brasil afora e já chegou à Bahia. Embora longe das proporções assumidas pelos ataques realizados em São Paulo em maio de 2006, a ação audaciosa dos criminosos na capital baiana mostra organização, articulação e, aparentemente, comando unificado.
No Rio de Janeiro também são frequentes os incêndios de ônibus em pretensos protestos de supostos moradores de bairros pobres da periferia. Aliar-se às duas principais capitais brasileiras no quesito articulação do crime organizado não é nada confortável para Salvador. Pelo contrário, é algo extremamente preocupante.
Os criminosos vêm se organizando no Brasil há pelo menos três décadas. Começou com o Comando Vermelho nas prisões do Rio de Janeiro nos anos 1970, evoluiu com a estrutura semiempresarial do PCC em São Paulo na década passada e agora já mostra suas garras em diversas regiões do Brasil, inclusive na Bahia.
O fenômeno da estruturação do crime organizado no País tem basicamente duas causas: a ausência do Estado na oferta de educação, saúde e demais políticas de inclusão social, de um lado, e do outro a adoção de políticas de segurança pública equivocadas. Como fermento, a corrupção, a morosidade da justiça e o envolvimento cada vez mais íntimo de criminosos com o poder político e com políticos criminosos.
Perspectivas
Todavia, embora as previsões apocalípticas sejam comuns em momentos como esse, a situação mostra um fato incontestável e que deve ser trabalhado: o crime só se organiza onde o Estado é desorganizado. Trocando em miúdos, a maioria dos deserdados só migra para a delinquência quando todas as outras portas se fecharam. E cabe justamente ao Estado manter as portas abertas.
No caso da Bahia, a violência desenfreada da última década veio acompanhada – perigosamente – da crescente organização dos criminosos. Em grande medida o tráfico de drogas é o suporte para outros tipos de delitos. Afinal, são seus representantes que contam com organização, armas, influência na política, na polícia, na justiça e – sobretudo – com fluxos monetários constantes e crescentes para financiar ações criminosas.
Lidar com o crime organizado implica em lidar com organizações. É óbvio, mas não é o que se executa hoje em termos de segurança pública. A inteligência, a prevenção e as ações estruturadas são, corriqueiramente, substituídas por incursões pontuais onde se distribuem bofetadas e tiros nos que integram o “chão da fábrica” do crime organizado. Os barões do pó permanecem intocados em suas mansões.
Ações
Dirá o leitor, com razão, que as constatações acima são óbvias e que o mais difícil é conseguir combater o crime organizado com eficiência. E está certo. Com um pouco de bom senso vamos construindo interpretações que não são exclusividade de privilegiados intelectualmente, mas de todos os que se dedicam a observar o dia-a-dia com um pouco mais de atenção.
Contudo, a semana começou na Bahia com uma inegável demonstração de força e organização dos criminosos que atuam nas fronteiras do estado. Colocado na defensiva, cabe ao Estado reagir e exibir os resultados dessa reação à sociedade, acuando os delinquentes que se organizam em poderosas quadrilhas que tornam os baianos mais pobres, residentes na periferia, reféns da criminalidade.
Aos políticos, além da ação, cabe a obrigação da sensatez e da maturidade a partir daqui. Os baianos sabem o pouco que se faz e o muito que se deixou de fazer pela segurança pública. E os resultados estão aí, pelas ruas, tocando fogo em ônibus, amedrontando a população e tornando os próprios policiais alvos de disparos.
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