No Brasil fala-se de “culto à personalidade” como se fosse prática exclusiva de regimes comunistas do Leste Europeu, na era stalinista, ou exotismo dos países socialistas remanescentes, como o Vietnam e a Coréia do Norte. Aliás, sempre de antemão nos colocamos na vanguarda, comodamente, para analisar esses fenômenos. Esquece-se, todavia, que no mundo ocidental existem pelo menos dois tristes exemplos da mesma prática: a Bahia e o Maranhão.
Até a redemocratização, aí por meados da década de 1980, havia mais desse personalismo no país. Nas décadas anteriores era mais comum, mas aos poucos os caudilhos foram caindo em desuso, porque não havia muito que desbravar. Somente no Nordeste a tradição se manteve, mas em declínio, já que os coronéis iam morrendo e o povo se educando aos poucos.
Os dois últimos expoentes, que sobreviveram até o século XXI, estavam justamente na Bahia e no Maranhão. No Maranhão a simbiose foi profunda e José Sarney subsiste, mesmo vergastado pelas denúncias de antigos aliados e pela obsolescência natural do seu modelo coronelista. Na Bahia, Antonio Carlos Magalhães morreu como opositor, o que pouco experimentara ao longo da vida.
Morto, tem suas práticas ignoradas pelos herdeiros políticos – pelo menos na retórica – e as homenagens que lhe prestam estão cada vez mais esvaziadas pelos antigos correligionários, que lhe juravam eterna fidelidade quando vivo e poderoso.
Restam, porém, despojos do antigo culto à personalidade, sua e de seus herdeiros. O filho morto em 1999 virou nome de aeroporto, de avenida em Salvador, de monumento numa das mais importantes avenidas da capital, de dezenas de escolas, de um município no oeste baiano, da sede da Assembléia Legislativa, de uma fundação com sede no Centro Administrativo da Bahia e de um monumento construído com metal fosco na entrada do Tribunal de Justiça da Bahia.
É muito para político em início de carreira. Depois das feridas impostas aos baianos, vêm as cicatrizes. Essas ainda permanecem muito visíveis, embora obscurecidas pelas sucessivas derrotas eleitorais e pela falência do seu sistema administrativo e de relações de poder.
Comentários
Postar um comentário