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As três vertentes das eleições presidenciais

Ontem (05) findou o prazo para a realização das convenções partidárias. Com relação às eleições presidenciais, o jogo ficou muito mais claro: candidaturas que se insinuavam foram confirmadas – ou não – e os nomes dos vices foram sendo anunciados numa frenética dança de afirmações e negativas. Pelo jeito, o incessante martelar por “renovação” foi infrutífero: o que está colocado no tabuleiro é apenas mais do mesmo. Nomes surrados, práticas arcaicas e discursos rotos sinalizam que o futuro vai prosseguir se assemelhando ao passado. Qualquer esperança, portanto, traz um cheiro intenso de ingenuidade.
Três diferentes vertentes, mais evidentes, se desenharam para as eleições presidenciais a partir do final de semana. Nenhuma delas sinaliza para a superação das fissuras políticas, que se somam à interminável crise econômica que se arrasta desde 2015. E – o que é pior – há situações em que não se pretende isso nem no plano do discurso.
Apeado do poder em 2016 – com o controverso impeachment de Dilma Rousseff – o petê tenta voltar ao poder com uma estratégia excêntrica: Lula, preso e condenado, segue se colocando como vítima de perseguição e postula a presidência da República, empregando o cárcere em Curitiba como escritório de campanha. Dificilmente conseguirá firmar a candidatura, mas já se definiu pelo “poste” que o substituirá: o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
O enredo petista, porém, não se encerra com as eleições presidenciais. Em caso de vitória, Lula definirá as diretrizes a partir do cárcere? Ou Haddad vai desfrutar de uma autonomia que não lhe foi concedida até agora? Será que não se caminha para repetir o desastre da gestão Dilma Rousseff, que conduziu o País à mais profunda recessão de sua História recente? Como vão reagir os rancorosos antipetistas que pelejaram para derrubar o petismo há apenas dois anos? Não há como pensar em governo estável com essas variáveis imbricadas.

Estabilidade?

Estabilidade, pelo jeito, também vai ser artigo escasso num eventual governo Jair Bolsonaro (PSL), o que encarna uma segunda vertente. São patéticas as demonstrações de ignorância do militar reformado – e parlamentar há quase três décadas – sobre os graves problemas que afligem o País e, sobretudo, sobre a maneira de enfrentá-los. Sucessivas entrevistas, recentes, evidenciam suas limitações.
Até aqui, Bolsonaro conseguiu ir pouco além da apologia do armamento da população. Defende, também, o enfrentamento do gravíssimo problema da violência com mais violência. Só que não serão arroubos retóricos que vão recolocar o Brasil nos trilhos da civilidade. Um projeto civilizador, a propósito, parece que é o que o candidato menos tem a oferecer.
A terceira vertente é a que vai trilhando Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo e queridinho do mercado financeiro. É o festejado nome de “centro” apoiado pelo “Centrão” – aquele agrupamento de partidos visceralmente fisiológicos que operam o toma lá dá cá com estarrecedora desenvoltura – e que exibe uma incômoda identidade com Michel Temer, o mandatário de Tietê, que resvala no ocaso do seu desastroso mandato.
Alckmin não pretende modificar a draconiana reforma trabalhista aprovada por Temer; pensa em extinguir o Ministério do Trabalho; é simpático ao pleito dos ruralistas por armamento no campo. Enfim, é o candidato que recende ao “tudo isso que está aí”, rejeitado por oito em cada dez brasileiros. Na algibeira, traz um magote de mal explicados escândalos de corrupção da Terra da Garoa. E, sobretudo – frise-se – marcha com o rebotalho da política brasileira.

Figurantes

Depois dos arranjos que configuraram as vertentes mencionadas acima, os demais candidatos parecem fadados a fazer figuração. Inclusive Ciro Gomes (PDT-CE), que parecia destinado a amealhar apoios e robustecer sua candidatura, antes das rasteiras simultâneas que lhe aplicaram Lula e Michel Temer. Pelo jeito, o x-ministro da Fazenda vai se resumir a cumprir a função de franco-atirador.
Marina Silva (REDE-AC) – veterana das últimas eleições presidenciais – até pontua bem no momento, mas tudo indica que não deve repetir o desempenho das eleições anteriores. Refratária ao balcão, avessa aos acordos de ocasião, empunha uma bandeira insustentável na lógica vigente hoje, a do balcão, dos acertos, dos conchavos.
Pelo jeito, alimentar esperanças de que tudo vai se arrumar mais adiante, no próximo mandato presidencial, é ingenuidade. Dependendo da ótica, chega a se assemelhar a desvario. Só que, sem engajamento do brasileiro, a situação tende a piorar. No momento, a melhor forma de engajamento é, por exemplo, expurgar boa parte do fisiologismo encastelado no parlamento, através do comparecimento às urnas em outubro...

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