Nos últimos meses basta
circular um pouco pela Feira de Santana para perceber, pelos bairros populares,
fogueiras à porta das casas para cozinhar amendoim. O preparo do produto exige
imensas panelas que repousam sobre fogueiras rústicas, armadas com carvão e
lenha, reforçada com tábuas e pedaços de madeira descartados. Quando as
fogueiras improvisadas ardem, o amendoim ferve nos caldeirões e tiras tênues de
fumaça desprendem-se, brancas, se diluindo no vento constante.
Tradicionalmente, o bairro
Queimadinha abriga a gente mais dedicada ao ofício, que perambula pelas ruas
feirenses o ano inteiro, apregoando o produto, cativando clientela nos bares e
nos pontos de ônibus, tornando-se referência na atividade. No bairro se produz
também amendoim torrado e aquele que se mistura ao camarão seco e que faz
sucesso como tira-gosto.
Lá foi instalada, há anos, uma
cozinha comunitária para a preparação do produto. E é comum se ver levas de
trabalhadores, com músculos retesados, impulsionando os carrinhos de mão que levam
o produto aos clientes. Parte sobe ali pela Avenida José Falcão – a tradicional
saída para Serrinha – na direção do centro da cidade e muitos se aventuram pela
Avenida Maria Quitéria, buscando as dezenas de badalados bares nas imediações
da Avenida Getúlio Vargas.
Mas, pelo jeito, muito mais
gente vem vendendo amendoim cozido esse ano na Feira de Santana: na Pedra do
Descanso, na Rua Nova, no Campo Limpo se vê gente na faina, mexendo panelões
fumegantes, secando o produto ou empurrando carrinhos de mão com vigor para
oferecer o amendoim à clientela. Pelo centro da cidade sucedem-se montanhas do
produto que tentam os transeuntes pelas apinhadas ruas centrais.
Exatamente como aconteceu em
2017, a temporada de inverno vem sendo generosa na região da Feira de Santana.
Os dias chuvosos se sucedem desde o início de abril, com a mesma regularidade,
mas com intensidade até maior. Quem plantou na Feira de Santana e nos
municípios próximos – sobretudo no Recôncavo mais chuvoso – já colhe o amendoim
que torna os festejos juninos mais saborosos, além dos demais produtos da
época, como o milho.
Véspera
de São João
Os vendedores de amendoim
cozido se aventuraram até na esvaziada véspera do São João, oferecendo porções
e até mesmo baldes para quem não quis enfrentar o trabalhoso processo de
lavagem e cozimento. Foi comum vê-los nos pontos de ônibus, à frente de
mercadinhos ou na porta de quitandas minúsculas, aguardando os retardatários
que ainda não tinham viajado para curtir o São João nalguma cidade próxima.
A campanha satisfatória da
Seleção Brasileira até aqui – está nas quartas de final da Copa do Mundo e é
uma das candidatas ao título – também favorece a demanda pelo amendoim, que
acompanha a cerveja durante as partidas, constituindo um dos principais petiscos
para os bebedores habituais. Não é à toa que, pelos bares, circulam muitos
ambulantes que mercadejam o amendoim.
Enfim, é compreensível que se veja
tanta gente investindo algum capital – a popular “guia” – e muito esforço na
produção do amendoim cozido. Afinal, a crise persiste, voraz, forçando o
brasileiro a improvisar para garantir um recurso adicional que assegure mais
alimento na mesa ou a quitação de uma conta de água ou de energia elétrica. É o
caso de quem se aventura vendendo o produto.
A partir desse mês de julho
– e passado o apelo mais intenso da época – é provável que a demanda decline e
a oferta volte a se restringir aos fornecedores habituais. Mas, por enquanto,
movida ainda pela Seleção Brasileira e pelo teimoso espírito junino, a oferta
do amendoim segue generosa pelas ruas da cidade...
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