Desde o fim de
outubro que as matérias sobre o Natal que se aproxima ocupam o noticiário. Ao
contrário de anos anteriores – quando a orgia consumista dava o tom em cada
reportagem – neste 2015 a crise tempera o noticiário sobre as festas de final
de ano. O comedimento predomina e o apelo à prudência ganha tons didáticos. Não
é para menos: as estimativas apontam para um recuo do Produto Interno Bruto –
PIB próximo dos 3%. Para o próximo ano, as expectativas são igualmente
desanimadoras: estima-se nova retração, que não deve ser inferior a 1%.
Noutros
tempos de crise – isso lá pelo final dos anos 1990 – ficou famoso o jargão
“Natal da lembrancinha”. Isso porque, endividado e com dinheiro curto, o
brasileiro não podia esbanjar, comprando presentes caros: quitar débitos
acumulados ao longo do ano e poupar para robustecer uma módica poupança
constituíam prioridades. É exatamente o que acontece hoje. Caso também falte
criatividade, é provável que se recorra à mesma analogia na imprensa.
Mas,
como é próprio da natureza do capitalismo, a crise é sempre mais severa com
alguns desafortunados. Esses, invariavelmente, costumam ser os trabalhadores e
a habitualmente emparedada classe média. Quem tem dinheiro para aplicar, está
feliz com os juros extorsivos que o Banco Central elevou no início do ano com
diligente disciplina. Exatamente como acontecia em meados dos anos 1990, só
reforçando a recordação.
Quem
vive do próprio trabalho contornou inúmeros problemas neste 2015: o desemprego
– muitos perderam seus postos de trabalho Brasil afora – a inflação ascendente,
os impostos indecentes, os cortes nos gastos sociais e nos direitos
trabalhistas e o clima de anarquia política que alavancou a crise econômica.
Heroico, merecia uma trégua natalina.
Mas,
não: vai ter que trocar o habitual peru natalino pelo providencial frango
assado, permutar o vinho mais fino pela mesma marca de cerveja dos finais de
semana e, como já foi dito, ignorar os presentes caros que se insinuam,
tentadores, nas vitrines. Certamente não faltarão aqueles, mais prudentes, que
substituirão o réveillon à beira-mar,
saudando Iemanjá, por uma torrente de pensamentos positivos emanados da própria
sala de casa. Afinal, sai mais barato.
Crise em 2016
A
questão é que, em 2016, as perspectivas econômicas também são pouco
promissoras. E com um agravante: as eventuais sobras acumuladas nos anos de
relativa bonança diluíram-se, em muitos casos, nesse 2015 de inúmeras agruras.
Assim, ajustando suas ambições, muitos brasileiros trocarão os tradicionais
pedidos de mais prosperidade para o próximo ano pela dádiva de atravessar 2016
incólume à crise. Não deixa de fazer sentido.
Nem
é tão consciente assim, mas na Feira de Santana os adereços natalinos começaram
a enfeitar as lojas mais tardiamente: somente agora em novembro – e com o
avançar do mês – é que Papai Noel começou a dar as caras nas vitrines. Mas sem
o mesmo apetite mercantil dos anos anteriores, quando o consumismo imperava, alavancado
pela emergente classe C. Hoje, milhões desses consumidores neófitos retornaram
à antiga condição e já não dispõem de dinheiro para gastar no comércio.
No
Feiraguai – até outro dia paradigma da ascensão da classe C ao universo do
consumo – o movimento decaiu desde o início do ano, a partir da elevação do
dólar. E isso se repete em todo o comércio: na Marechal Deodoro que fervilhava,
na Sales Barbosa aonde cada centímetro quadrado era disputado com sofreguidão,
na Senhor dos Passos e na Getúlio Vargas com seus consumidores mais exigentes.
É
provável que, até às vésperas de Natal, o movimento encorpe, graças ao
pagamento do décimo-terceiro salário. Mas nada que se compare aos anos
anteriores, quando o Chester era disputado a tapa nos congeladores dos
supermercados. Resta a expectativa que, dentro de um ano, às vésperas do Natal
de 2016, estejamos comemorando os primeiros sinais da retomada do crescimento
econômico.
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