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A polêmica implantação do BRT



              
      Uma polêmica intensa cerca a implantação do chamado BRT – Bus Rapid Transit em Feira de Santana. Ideia originalmente apresentada pelo ex-prefeito Tarcizio Pimenta, nas eleições municipais de 2012, quando tentava e reeleição, a proposta tornou-se o principal projeto do prefeito eleito José Ronaldo de Carvalho (DEM) na área de transporte coletivo, a partir de janeiro de 2013. Até a presidente Dilma Rousseff (PT), em discurso realizado em outubro, anunciou que pretende visitar a cidade para inaugurar a obra, cujo financiamento será da Caixa Econômica Federal.
                A primeira polêmica decorreu do anúncio oficial de que as árvores que tornam menos ardente o centro da cidade, na avenida Getúlio Vargas, não seriam cortadas. Posteriormente, quando o projeto elaborado por uma empresa privada foi concluído, a prefeitura se desdisse, anunciando o corte de 136 árvores. Com o recuo, a polêmica, que já estava nas ruas e nas redes sociais, encorpou.
                Posteriormente, o Ministério Público entrou em cena, cobrando a realização de audiências públicas para consultar a população. Recorreu-se, então, a um contorcionismo consultivo: a prefeitura lançou uma escuta pela Internet, com baixa participação e poucas contribuições, que inclusive sequer se tornaram públicas.
                Ao longo de todo o processo argumentou-se que o projeto contém elementos estritamente “técnicos”, que dispensariam a escuta social. O próprio teor do documento, até recentemente, era de conhecimento de uns poucos grupos, sendo apresentado em reuniões fechadas, sem discussão ou incorporação de sugestões. Sob pressão, só muito recentemente o projeto foi postado no site da prefeitura.
                Sociedade
                É evidente que o cidadão tem que tomar conhecimento sobre o projeto e, caso deseje, opinar sobre seu conteúdo. Afinal, é algo que vai afetar sua vida diretamente. Iniciativas do gênero, além de demonstrar a disposição democrática dos governantes, guardam sintonia com os mais modernos métodos de gestão em qualquer lugar minimamente civilizado, que, acredita-se, seja o caso da Feira de Santana.
                Também é necessário que a prefeitura estabeleça diálogo com os ambientalistas: alegar que novas árvores serão plantadas – sobretudo palmeiras imperiais, que não oferecem sombra sob o tórrido calor feirense – é insuficiente e pouco esclarecedor. É fundamental mais diálogo, até para convencer a população e assegurar seu apoio.
                   Há um paralelo na história recente do município: o pouco diálogo contribuiu para acentuar os problemas visíveis no chamado Sistema Integrado de Transporte – SIT implantado em 2005. É o caso da escassez de linhas que circulam pela rodoviária ou a não implantação de bilhetes eletrônicos para a integração das linhas, que dispensariam o inútil deslocamento do usuário para os terminais.
                Discussão
                Essa série de embaraços levou o prefeito, muito sensatamente, a anunciar o adiamento da licitação para a implantação do sistema. A celeridade aqui pode ser compensada com questionamentos judiciais lá adiante, o que pode se traduzir em atrasos ainda maiores. E contar com o efetivo apoio da população é muito mais desejável que tocar a iniciativa a ferro e fogo, como acusam os críticos do processo.
                Note-se, também, que parte desses embaraços decorrem da ausência de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) no município. Instrumento fundamental de planejamento do espaço urbano, um PDDU em vigência deveria contribuir para organizar a ocupação do espaço, evitando iniciativas pontuais e desordenadas, tocadas aos solavancos.
                Espera-se que, a partir daqui, a discussão se efetive e que consensos sejam construídos. É necessário ressaltar, porém, que o BRT em si não vai solucionar todos os crônicos problemas de transporte coletivo no município. Não é uma panaceia, já que o verdadeiro drama se manifesta nas linhas acessórias, que costumam alimentar o sistema vendido com pompa...

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