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Uma leitura das eleições 2012


           

O resultado das eleições em Feira de Santana, decididas no primeiro turno domingo passado, trouxe pelo menos um fato curioso: a pulverização da composição da Câmara Municipal numa impressionante mistureba de partidos. Foram eleitos 21 parlamentares, representando nada menos que 15 legendas diferentes. O próprio partido do prefeito eleito não fez mais que dois parlamentares, o que representa somente cerca de 10% do Legislativo.
            Com base nos resultados, dois partidos saíram mais fortalecidos: o PT e o até outro dia nanico PTN, com três vereadores cada; o DEM e o PSC vem na seqüência, com dois parlamentares eleitos; e o restante das onze vagas se distribui num emaranhado de siglas detentoras de um único assento na Câmara Municipal.
            Embora o candidato petista Zé Neto não tenha conseguido forçar o segundo turno, o PT numericamente sai maior dessas eleições, com três vereadores eleitos. É o melhor desempenho do partido nas disputas legislativo feirense, cuja história foi iniciada pelo próprio Zé Neto, no já distante ano 2000.
            A própria oposição, aparentemente, sai mais robusta, já que sete vereadores – ou um terço da Câmara – não foram eleitos com o apoio do futuro prefeito José Ronaldo de Carvalho. Se todos permanecerão na oposição, ou não, é outra história. Mas a existência da oposição é sempre salutar e muito bem-vinda.

            Surpresas

            Numa eleição decidida no primeiro turno por um candidato que permaneceu na liderança desde os primeiros momentos, aparentemente não haveria nada de significativo no cenário eleitoral. Mas houve, não só em Feira de Santana, como no Brasil: o crescimento do PSOL, fundado por dissidentes petistas há uns sete anos.
            Na Feira de Santana, a legenda apresentou um candidato a prefeito com um discurso articulado, didático, sóbrio e que abordou questões cruciais relacionadas à vida da cidade. Sempre demarcando uma posição mais à esquerda, Jhonatas Monteiro e o PSOL conseguiram pelo menos duas proezas.
            A primeira delas foi conseguir 27 mil votos numa campanha feita com poucos recursos, basicamente obtidos com doações de pessoas físicas, principalmente militantes da legenda e simpatizantes. A segunda foi superar, com vantagem não negligenciável, o atual prefeito Tarcízio Pimenta, que tentava a reeleição.

            Resultados

            As eleições 2012 em Feira de Santana produziram um nível de tensão que não se verificava desde 1996, quando José Falcão da Silva surpreendeu vencendo o então candidato pefelista Josué Mello num segundo turno disputadíssimo. Apesar dessas tensões, houve um debate interessante sobre a cidade em 2012.
            A reativação do aeroporto, a construção da Perimetral Norte, a avenida Nóide Cerqueira e a revitalização da Lagoa Grande são iniciativas que, caso concretizadas, vão permitir uma grande dinamização da economia feirense e elevar a qualidade de vida da população.
            Não deixa de ser um alento para o feirense que, há décadas, padece numa cidade que cresce sem nenhum planejamento urbano, orientado apenas pela lógica dos empreendimentos privados. Ainda assim, a necessidade de se pensar a cidade sob uma perspectiva moderna permanece posta. E o desafio inicial é a elaboração, aprovação e implementação de um Plano Diretor, o que já deveria ter sido feito desde, pelo menos, o também distante ano de 2001...


           

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