Um
dos desdobramentos da escalada de violência que a Bahia vive desde a última
semana com o motim da Polícia Militar deve ser o rearmamento da população. No mínimo, as consagradas cenas de pessoas
entregando suas armas em postos de recebimento devem sofrer um refluxo
considerável. Afinal, a matança indiscriminada de mendigos, as armas apontadas
contra mulheres obrigadas a descer de ônibus em avenidas movimentadas de
Salvador, os saques e os arrastões e os tiros deflagrados contra agências
bancárias são típicas de países mergulhados no caos que antecede os golpes de
Estado.
Nada
mais natural, portanto, que o cidadão indefeso e acuado em casa resolva
preservar o revólver que mantinha guardado no guarda-roupas e desista de
contribuir para a campanha do desarmamento; outros, mais afoitos, não hesitarão
em adquirir uma arma porque a barbárie dos últimos dias deixará seqüelas
difíceis de serem esquecidas.
Em
2005, naquela consulta sobre o desarmamento realizada pelo Governo Federal, a
maior parte da população votou pela proibição da venda de armas. Se os motins
tocados pelos policiais militares em diversos estados prosperarem, como ocorreu
na Bahia, com certeza vai aflorar uma pressão pelo rearmamento, inclusive pela
liberação da venda de armas.
É
desnecessário dizer que esse é o pior dos cenários possíveis: mais gente armada
vai significar mais armas circulando em cinturas e porta-luvas de carros, o que
vai se traduzir em mais assassinatos, mais tentativas de assassinatos e maior
sensação de insegurança. Combinados, esses fatores vão manter os níveis de
violência nos elevados patamares atuais, sem perspectivas de redução.
Novas greves
Por
outro lado, nada significa que a desordem atual será sucedida pela calmaria:
novas insubordinações poderão acontecer por motivos fúteis ou aproveitando-se
circunstâncias específicas: alguém, por exemplo, pode duvidar que 2014 reservará
uma nova onda de greves às vésperas da Copa do Mundo? Ou às vésperas das
Olimpíadas de 2016?
Tentados
por certas facilidades, líderes grevistas desequilibrados ou outros
oportunistas de plantão podem avançar para além da pauta salarial e pretender
reformar o Brasil através de golpes de Estado, como muitos fizeram
desastradamente no passado. Para tanto, bastam armas à mão e ânimos exaltados,
o que já se verifica no caso baiano. Resta saber se essa situação vai se
alastrar por outros estados.
Uma
célebre frase indica que a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos
os outros. Cabe-nos, portanto, sustentar a defesa intransigente da democracia e
repudiar as lideranças messiânicas que ressurgem nos dias atuais e que pareciam
relegadas à mera curiosidade histórica há pouco tempo.
Impotentes,
os baianos acompanham, apreensivos, o noticiário e se empenham em sustentar uma
normalidade apenas aparente. Nas ruas comerciais da Feira de Santana, pelos
pontos de ônibus e pelas feiras-livres, o que se vê são pessoas assustadas e eloqüentemente
silenciosas. Não resta dúvida que os dias de terror que escorrem figurarão como
dos mais tristes da História recente da Bahia...
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