Pular para o conteúdo principal

Repasses para a Educação caem ao menor nível desde 2014

Existem muitas formas de mensurar o desapreço do novo regime pela Educação. A pretensão de controlar professores, a militarização das unidades escolares, a simpatia pelo famigerado projeto Escola sem Partido, tudo isso reflete, em termos subjetivos, o desdém pelo tema. Há, porém, formas mais concretas – e mensuráveis – de entender o que está se passando com a Educação no Brasil. Uma delas é avaliar as transferências de recursos para os municípios. A Feira de Santana constitui um caso exemplar.
A partir de janeiro e até setembro do ano atual foram transferidos R$ 39,239 milhões para o Ensino Fundamental no município, sob a gestão de Jair Bolsonaro, o “mito”.  É o menor repasse real desde 2014, conforme consulta ao Portal da Transparência, do Governo Federal. Para a comparação, foram considerados apenas os períodos de janeiro a setembro. Os valores foram corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA.
Até meados de 2014 a crise ainda não havia eclodido. Naquele ano, foram repassados R$ 50,384 milhões, em valores atuais. No ano seguinte – ainda sob a gestão petista de Dilma Rousseff, é bom ressaltar – foram repassados R$ 40,104 milhões, também atualizado. Num ano, portanto, a queda foi de aproximadamente 20%. Um desastre.
Todos lembram que, em 2016, o MDB passou a rasteira nos petistas e colocou Michel Temer na presidência da República. O valor repassado para a Feira de Santana seguiu muito próximo do montante do ano anterior: R$ 40,445 milhões. No ano seguinte, 2017, uma boa notícia: o valor cresceu mais de 10%, totalizando R$ 45,348 milhões. Ano passado aconteceu novo declínio e o montante recuou para R$ 42,206 milhões.

Teto de Gastos

Os repasses para a Educação também estão sujeitos ao festejado Teto de Gastos, aprovado sob júbilo, em meados de 2016. Não há, portanto, muita perspectiva de que esses valores cresçam no médio prazo. A não ser que revoguem a afamada emenda constitucional, o que é altamente improvável sob o novo regime.
A situação do Brasil, porém, é tão surreal que o ruim sempre pode piorar. O ministro da Economia, Paulo Guedes – aquele que apelidado de “Tchutchuca” – pretende desvincular o orçamento da União, remover as amarras que o engessam, conforme a carbonária – e marota – retórica liberal. Na prática, isso pode significar ainda menos recursos para a Educação. Exatamente como já ocorre aqui na Feira de Santana.
Nem é necessário comentar que recursos aplicados em Educação e Saúde beneficiam, sobretudo, os mais pobres. Reduzir recursos é sinônimo de precarização desses serviços. E precarização, por sua vez, é sinônimo de aprofundamento das gritantes desigualdades sociais brasileiras. Receita irretocável para uma convulsão social, lá adiante.
2020 é ano de eleições municipais. Há, na praça, um leque amplo de pré-candidatos à prefeitura feirense. Como eles pretendem lidar com o cenário de redução de recursos para a Educação? É bom lembrar quando começarem aquelas propagandas envernizadas sinalizando para um futuro radioso lá adiante...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...

O futuro das feiras-livres

Os rumos das atividades comerciais são ditados pelos hábitos dos consumidores. A constatação, que é óbvia, se aplica até mesmo aos gêneros de primeira necessidade, como os alimentos. As mudanças no comportamento dos indivíduos favorecem o surgimento de novas atividades comerciais, assim como põem em xeque antigas estratégias de comercialização. A maioria dessas mudanças, porém, ocorre de forma lenta, diluindo a percepção sobre a profundidade e a extensão. Atualmente, por exemplo, vivemos a prolongada transição que tirou as feiras-livres do centro das atividades comerciais. A origem das feiras-livres como estratégia de comercialização surgiu na Idade Média, quando as cidades começavam a florescer. Algumas das maiores cidades européias modernas são frutos das feiras que se organizavam com o propósito de permitir que produtores de distintas localidades comercializassem seus produtos. As distâncias, as dificuldades de locomoção e a intermitência das safras exigiam uma solução que as feiras...