Pular para o conteúdo principal

As eleições municipais e a questão ambiental

                                
Apesar das crises política e econômica intensas no Brasil, para 2016 estão programadas eleições municipais. Será a hora da escolha dos novos prefeitos e vereadores. Mesmo com os acontecimentos excepcionais em curso, os meses que antecedem as eleições costumam ser dedicados à escolha dos candidatos mas, também, às discussões sobre os problemas que afligem os municípios. A partir desses debates elaboram-se planos de governo que, supostamente, são implementados pelos candidatos vencedores.
                Nos últimos anos o Brasil vinha numa trajetória ascendente em relação à consolidação da democracia e de seus instrumentos. Um elemento importante, produto desse aprimoramento, são os planos de governo. É a partir deles que, em tese, a propaganda eleitoral é concebida, para o esforço de convencimento do eleitor.
                As últimas eleições mostraram que programas de governo são mais importantes que aquilo que aparentam ser. Dilma Rousseff (PT), por exemplo, venceu as eleições apresentando propostas que foram abandonadas logo depois das eleições, o que corroeu sua credibilidade. Com a confiança abalada, e tragada pelo turbilhão da crise econômica, acabou se tornando presa fácil daqueles que costuraram sua deposição.
                Nos municípios, obviamente, os impactos são menos dramáticos que nos estados e na União. Mas gestões municipais que não planejam suas ações também comprometem a qualidade de vida da população. Sobretudo em temas que afetam mais a vida das pessoas, como a saúde, a educação e a infraestrutura urbana, além do pouco mencionada questão ambiental.

                Arborização

                O clima na Feira de Santana é reconhecidamente árido: sol intenso, baixa umidade, chuvas escassas e prolongados períodos de estiagem. Pela lógica, o plantio e o cuidado com as árvores deveriam constituir tema permanente para a prefeitura. Mas não é o que se vê: ruas, praças e avenidas mostram-se como planícies desoladas, castigadas por manhãs e tardes de ardência implacável. Há muito pouco verde pela cidade.
                O irônico é que cidades localizadas sob climas mais amenos – no Sul e no Sudeste, por exemplo – contam com políticas de arborização muito mais robustas. Mas não apenas isso: o verde urbano constitui agenda permanente nesses lugares. Não é o caso da Feira de Santana, cuja secretaria de Meio Ambiente sempre figurou como pasta secundária.
                A questão mais emblemática em relação ao meio ambiente, no entanto, refere-se às lagoas da cidade. Descontando a Lagoa Grande, que foi objeto de uma bem-vinda intervenção do governo do estado – mas que se arrastou por muitos anos – as demais seguem pouco cuidadas, ameaçadas por incontáveis construções irregulares, como se vê na lagoa Salgada.

                Intervenções

                É claro que recursos para intervenções mais incisivas sempre faltam. Mas isso não justifica a completa ausência de debate sobre a questão ambiental no município. Formas alternativas de preservação e de arborização, como parcerias e outros arranjos com a iniciativa privada e até com a comunidade, podem trazer soluções para os muitos problemas acumulados ao longo dos anos. Mas, antes, é necessária disposição para o debate.
                A preservação de lagoas e demais mananciais que ainda resistem na Feira de Santana exige fiscalização e atitude dos governantes. Ao longo de décadas esses mananciais foram tragados pela especulação imobiliária e pelas invasões descontroladas, sempre com reações oficiais dúbias. Os resultados da omissão são desastrosos, conforme se pode perceber em rápidas inspeções.
                Em países verdadeiramente democráticos os debates costumam fluir sem que governantes – ou postulantes aos governos – se abespinhem com eventuais críticas. Não é o caso do Brasil, onde qualquer contestação é vista como afronta pessoal. Sobretudo nos últimos tempos, com a temperatura política efervescendo a níveis irracionais e o ódio predominando nos discursos. As próximas eleições surgem como a oportunidade – quem sabe – para fazer a temperatura política ir voltando ao normal...    

                

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Placas de inauguração contam parte da História do MAP

  Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva. Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foram quatro placas. Três delas solenes, bem antig...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...