Os números variam um pouco, mas no atacado a Feira de Santana
rompeu, há alguns meses, a marca dos quatro mil homicídios desde o ano 2001.
Considerando o número até março de 2016 – só no primeiro trimestre são mais de
cem assassinatos, número bastante superior aos de anos inteiros em algumas
grandes metrópoles do planeta – são mais de 4,1 mil assassinatos a partir do
início do século. Com essa soma assombrosa, é difícil um feirense não conhecer
alguém que já foi tragado por esse turbilhão de violência.
Quem analisa a série histórica enxerga, de imediato, a
tendência ascendente e a relativa estabilização em níveis altíssimos nos
últimos anos. Desde 2007 morrem, pelo menos, duas centenas de pessoas todos os
anos. Isso para não mencionar a prática nem tão incomum do latrocínio, o roubo
seguido de morte, quem nem figura nessa contabilidade.
Em 2015, houve intensa comemoração pela redução em relação ao
ano anterior. Oficialmente, foram 282 mortes. Nessa contabilidade, todavia, não
entraram os dez mortos da rebelião no Conjunto Penal, nem as vítima de
latrocínio. Logo, o número de mortos superou, mais uma vez, as três centenas.
Só um milagre levaria a Feira de Santana, neste 2016, a recuar
ao patamar – já elevado – de 2006: como já são mais de 100 mortos, é improvável
que, até o fim do ano, não morram outras cem pessoas, o que contribuirá para
sustentar o funesto recorde. Sobretudo em função de notícias dando conta que,
recentemente, quadrilhas de traficantes passaram a disputar territórios a bala,
fazendo a violência recrudescer.
Qualidade de vida
Dados estatísticos frios, normalmente, servem para
dimensionar a realidade, atribuindo quantidades a determinados fenômenos.
Entender o impacto da violência sobre a realidade feirense, no entanto, exige
um mergulho na dimensão qualitativa, o que ainda está por ser feito. Só associando
as duas vertentes para compreender a extensão dos efeitos da violência sobre os
feirenses.
Consequência óbvia da violência crescente na rotina da
população é a limitação no ir-e-vir: as madrugadas tornaram-se proibitivas ao
longo dos anos, assim como o trânsito em determinadas regiões da área urbana. É
o caso do centro da cidade, pouco recomendável fora do horário comercial. Mas
já há lugares que se tornaram arriscados até mesmo à luz do dia.
A rotina draconiana da violência, no entanto, vai além.
Alguns bairros, sobretudo os mais populosos e os periféricos, registram
episódios de violência mesmo fora dos horários de risco. Em alguns, a presença
de estranhos não costuma ser bem vista por traficantes. Em circunstâncias
extremas, até toque de recolher já foi
imposto. Impossível maior constrangimento ao direito de ir e vir.
Comércio
A aflição que alcança o cidadão na rua é ainda maior para
quem investe seu capital no comércio, por exemplo. Além das dificuldades
naturais para a sustentação da atividade – sobretudo desde a eclosão da crise
econômica – é necessário, muitas vezes, investir em segurança privada para evitar
prejuízos com assaltos. Com isso, elevam-se os custos, que costumam ser
repassados aos consumidores.
Os efeitos, porém, não se esgotam aí. Morar em áreas com
elevados índices de violência costuma trazer prejuízos adicionais, inclusive
financeiros. Afinal, interessados na aquisição de imóveis também levam em
consideração a incidência de crimes quando decidem comprar um bem. Quem dispõe
de casas ou apartamentos para vender em áreas mais violentas, sabe das
dificuldades para fechar negócio.
Sintéticos, esses exemplos mostram que o impacto da violência
sobre a sociedade vai muito além das estatísticas, divulgadas com frequência.
Envolve também uma dimensão qualitativa que afeta a qualidade de vida. Não se
mata mais de quatro mil pessoas – número digno de uma guerra – sem efeitos
expressivos sobre a rotina de uma sociedade. Eis um instigante tema de pesquisa
que permanece inexplorado.
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