Balanço mesmo
das vendas de Natal só se vai ter dentro de mais alguns dias, às vésperas do
alvorecer de 2016. Mas, desde já, imagina-se que não existam grandes motivos
para comemoração. Afinal, a feroz crise econômica que eclodiu logo na sequência
das eleições presidenciais de 2014 vem deixando sequelas – desemprego, retração
nos negócios, queda no rendimento real, redução nos investimentos – desde
aquela época. E, o que é pior, deve seguir por 2016 com o mesmo vigor. Nada
mais natural, portanto, que o consumidor se acautele, priorizando o pagamento
das dívidas e investindo apenas em presentes módicos, pois não se sabe o que
virá pela frente.
Conforme
já mencionamos, Papai Noel e a decoração natalina demoraram para dar as caras
em 2015. Nos anos anteriores, de frenética orgia consumista, a neve de algodão,
as luzes dos pisca-piscas, o sorriso do bom velhinho e as canções de época que
embalavam compradores pejados de sacolas já se notavam desde o princípio de
novembro. Alguns comerciantes, mais precipitados, lançavam a isca em meados de
outubro. Em 2015 as primeiras alusões retardaram-se até a segunda quinzena de
novembro, quando o décimo-terceiro salário começou a se desenhar no horizonte.
É
que o ano foi marcado por uma batalha feroz para se sustentar o nível de vida
ou, pelo menos, não se regredir tanto. Até outubro, 5,8 mil empregos formais
esfumaçaram-se na Feira de Santana. Muita gente, engajada no exército de
trabalhadores informais, viu suas atividades definharem. A perda no rendimento
real do trabalhador foi assustadora, mesmo num país com as iniquidades sociais
do Brasil.
Depois de dezembro vem janeiro, mês
tradicionalmente árido para os negócios. Com a crise efervescendo sob o calor
do verão, a tendência é que o cenário seja mais funesto que nos períodos
habituais. E isso não apenas em função dos constrangimentos econômicos: no
picadeiro político, o espetáculo do momento é o impeachment, que mantêm o País em tensa expectativa, enquanto as
excelências descansam em seus elegantes chalés à beira-mar.
Espírito natalino
No início do
ano o discurso oficial era que, a partir do quarto trimestre desse 2015 de
amargas lembranças, estaríamos ensaiando a retomada da atividade econômica.
Poucos acreditaram nesse prognóstico de um otimismo irresponsável. O problema é
que, agora, até esse otimismo infundado se diluiu e é consenso que 2016 também
vai ser ano perdido. No horizonte, também não se fala de 2017, o que já é um
mau sinal.
O
mais grave, todavia, não é nem a crise em si, conforme já mencionamos
anteriormente: é a completa falta de perspectiva no médio prazo. Afinal, os
discursos se limitam a avivar um liberalismo cafona e extremamente perverso com
os mais pobres ou um desenvolvimentismo extemporâneo, historicamente superado e
que, na melhor das hipóteses, exigiria gente mais qualificada para operá-lo que
a turma ora colocada no cock pit
econômico.
Mas,
apesar de tudo, é Natal. E, nele, as pessoas costumam relaxar, afastar-se um
pouco das asperezas cotidianas, repousar das batalhas inerentes à existência. Para
além das tradicionais trocas de presentes, dos planos para o ano que se inicia
e da confraternização em torno da ceia natalina, há o chamado espírito
natalino, a disposição para perdoar e ser perdoado, a reflexão sobre o amor ao
próximo e todas essas sensibilidades que só costumam aflorar nesta época.
Essa
trégua, inclusive, costuma se estender até o final da próxima semana, quando
muitos se deslocam pro litoral para, de lá, saudar o Ano-Novo e Iemanjá. Nesse
meio tempo, muitos compram a roupa branca da virada, o espumante que vai dar um
toque de sofisticação e reviram, na memória, antigas superstições que visam
atrair bons fluidos para o ano que se inicia.
Sendo
assim e apesar de tudo, Feliz Natal, caro leitor !!!
Comentários
Postar um comentário