O tema foi
muito discutido no noticiário nos últimos dias e vem, com razoável freqüência,
sendo abordado neste espaço. Mas, mesmo sob o risco da redundância ou da
aparente falta de assunto, somos forçados, mais uma vez, a nos reportar à
questão da violência na Feira de Santana. Afinal, os dados oficiais divulgados
há uns poucos dias indicam que foram assassinadas 412 pessoas no município nos
365 dias de 2012. De imediato, percebe-se que a assustadora média de um
homicídio diário já ficou pra trás: ano passado houve 1,1 assassinato a cada 24
horas.
Todo
mundo sabe que andar pelas ruas da Feira de Santana é muito perigoso. Com
números, no entanto, é possível dimensionar melhor o nível de insegurança: ano
passado, de cada 1.349 feirenses, um foi assassinado. Isso quando se consideram
os 556 mil habitantes contabilizados pelo Censo 2010 do IBGE. Com o crescimento
da população, talvez essa proporção seja um pouco maior.
Alguns
bairros se sobressaem na triste estatística das vítimas de homicídio. É o caso
da Mangabeira, com 21 crimes dessa natureza; ou da Rua Nova, vice-campeã com 19
registros; ou o George Américo que ganhou uma Base Comunitária de Segurança,
mas que mesmo assim figura na quarta colocação, com 17 assassinatos, sendo que
quatro deles ocorreram num intervalo de oito dias, após a badalada inauguração
da unidade.
Antigamente
quem pensava nos distritos feirenses associava-os, de imediato, ao bucolismo da
vida rural. Hoje, porém, a insegurança não tem fronteiras e quem vive nessas
comunidades tem a companhia permanente do medo. Afinal, nada menos que 45
assassinatos foram registrados ano passado, quase um a cada semana; Só Humildes
registrou 14 ocorrências, superando muitos bairros feirenses.
Distribuição da Violência
Embora
em alguma medida democrática, a violência é desigual: atinge sobretudo os mais
pobres, residentes em bairros populosos. Embora com dados defasados e sem
ambições científicas, tentamos dimensionar a exposição ao risco de morte dos
moradores dos bairros com maior número de registros na Polícia Civil. Algumas
constatações são, de fato, espantosas.
Os
cerca de 14 mil moradores da Mangabeira tem o dobro do risco de morte por
assassinato que a média feirense: ano passado, de cada 666 habitantes do
bairro, um foi vítima de homicídio em 2012, já que o bairro teve 21 registros;
No George Américo “pacificado”, onde residem 12 mil pessoas, a proporção é só
um pouco maior: um assassinato para cada 706 moradores.
Outro
bairro onde os números são assustadores é a Rua Nova: de cada 737 moradores, um
foi vítima de homicídio ano passado. Isso quando se considera uma população de
aproximadamente 14 mil moradores; O dado representa pouco mais da metade da
média de 1.349 do total da Feira de Santana. Em suma, quem mora na Mangabeira,
na Rua Nova ou no George Américo tem o dobro do risco de morte que a média da
cidade em geral.
Políticas Públicas
Alguns
dados relativos ao total de moradores desses bairros podem estar defasados, já
que não há informações detalhadas – e atualizadas – sobre a população feirense
por bairro. As proporções, no entanto, mesmo sujeitas a eventuais correções,
ilustram o grau de risco a que está exposto o cidadão feirense pagador de
impostos, mas pouco seguro pelas ruas da cidade.
Os
bairros com taxas de homicídio mais elevadas devem figurar como prioridade em
qualquer política voltada para a redução da violência. Note-se, todavia, que a
mera presença de policiais nas ruas não resolverá a questão da violência
enquanto as causas do abismo social não forem atacadas. A oferta de saúde e
educação com um mínimo de qualidade, por exemplo, seria um primeiro passo
relevante.
Por
enquanto apenas resta-nos – além do pasmo com a violência desenfreada – o gesto
cristão de rezar pelos que estão sendo mortos, como já mencionamos em texto
anterior. Afinal, o discurso de que parte das vítimas tem envolvimento com a
criminalidade é uma cruel justificativa para a matança que assusta a todos.
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