Basta o dólar se desvalorizar mais um pouco que os centros de comércio popular voltam à pauta da imprensa. Se a desvalorização alcança patamares recordes – semana passada chegou a custar R$ 1,65 – e ocorre em períodos de aquecimento das vendas, como os meses que antecedem o Natal, então começa a correria pelas entrevistas de consumidores das classes C e D, da exposição de produtos diversificados em tabuleiros coloridos e das dicas acerca dos locais onde se pode encontrar preços mais acessíveis e muitas opções.
São comuns também as reportagens sobre a natureza informal da atividade e a prevalência de produtos contrabandeados e pirateados. Essa semana, por exemplo, um jornal de Salvador lembrou mais uma vez do “Feiraguai” aqui na Feira de Santana e trouxe pelo menos uma informação interessante: a de que somente a famosa Rua 25 de Março, em São Paulo e uma feira popular, em Brasília, superam em vendas o movimento frenético da praça Presidente Médici.
Quem viaja pelo interior ou conversa com comerciantes feirenses sabe que o entreposto é o principal abastecedor do comércio popular em pelo menos uma centena de municípios baianos. Muitos dos que se acotovelam pelos corredores abarrotados e estreitos são visitantes atraídos pela variedade e pelos preços atraentes do “Feiraguai”.
Inegavelmente a Feira de Santana que se consolidou como um dos principais municípios do interior do Brasil graças ao comércio encontrou no “Feiraguai” uma versão muito oportuna para atrair e acomodar a clientela das chamadas classes C e D que, nos últimos anos, vem se afirmando no mercado consumidor.
Batalhas
O curioso é que o “Feiraguai” é produto de uma dinâmica urbana que custou a se consolidar e conquistar o próprio espaço. No início dos anos 1990 muita gente vendia relógios coloridos e aparelhos de rádio em bancas improvisadas pelas esquinas do centro comercial. Eram tempos duros de inflação galopante e desemprego elevado.
Foram muitas as batalhas com o poder público e com os comerciantes. Nos tempos em que o “rapa” andava solto, eram comuns apreensões de mercadorias, correrias e até cenas de violência. A falta de alternativas de trabalho, no entanto, manteve muitos feirenses na atividade.
Em 1995 a abandonada praça Presidente Médici, ali nos fundos da Matriz, foi finalmente ocupada. Não houve reclamações porque estava em estado deplorável e ficava um pouco mais distante da Sales Barbosa, da Senhor dos Passos e da Marechal Deodoro. Aos poucos cresceu e tornou-se famosa. Talvez hoje projete a Feira de Santana que nem o Fluminense e o lendário Lucas da Feira.
Melhorias
Hoje não dá para negar que o entreposto atrai visitantes que gastam no município, gera postos de trabalho e torna mais febril o movimento no centro comercial da Feira de Santana. Também não dá para negar que o “Feiraguai” é um espaço absolutamente desconfortável para consumidores e comerciantes. Os corredores são estreitos, o calor é infernal e as ruas laterais são caóticas, com carros, pedestres, bicicletas, motocicletas e até carroças disputando espaço.
Os poderes públicos não podem viver na eterna ambigüidade em relação ao comércio informal. Nos períodos eleitorais surgem promessas mil e, logo depois, recomeça o esquecimento. A questão é que o “Feiraguai” assumiu uma dimensão que já não dá para ignorá-lo.
A prefeitura deveria buscar uma alternativa que melhore a vida dos que gravitam no entreposto ou que vivem dele. Ocupar novos espaços parece inviável: não há mais locais disponíveis no centro da cidade. A única solução é a adotada por outros municípios: a construção de um camelódromo com dois ou três pavimentos, que aloje de forma decente comerciantes e consumidores.
Há sempre o argumento da falta de recursos. Dinheiro sobrando evidentemente não há. Mas como o “Feiraguai” existe há pelo menos 15 anos, parece claro que investir na iniciativa nunca foi prioridade. Quem sabe se, diante da pujança crescente do entreposto, não entre finalmente no rol das prioridades governamentais...
Comentários
Postar um comentário