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Notícias da Feira de Santana nos anos 30 (II)



Afirma o senso comum que o povo brasileiro não tem memória. No que se refere à conservação de informações estatísticas importantes sobre a História Brasileira, este raciocínio se confirma, principalmente em relação aos municípios. Feira de Santana, infelizmente, não foge a esta regra e as referências às décadas passadas, quase sempre, são relegadas à memória dos que as viveram. A década de 1930 (particularmente o intervalo entre 1931 e 1937) em parte constitui uma louvável exceção. Nela começou a se construir uma estatística com informações econômicas e sociais sobre a Bahia e seus municípios.
Estes dados constam no Anuário Estatístico da Bahia publicado então. Através da leitura e da comparação, o leitor poderá acompanhar como evoluiu a Feira de Santana, que em contínua transformação, embora lenta, começava a ganhar as feições sob as quais a conhecemos hoje.


A Feira de Santana em 1932

Embora não dispusesse de uma malha viária com a qualidade desejável (à exceção da Capital-Feira, todas as estradas da região eram apenas carroçáveis ou apenas meras picadas), a Feira de Santana de 1932 era um vigoroso entreposto comercial, principalmente no que se refere ao comércio de animais. Informações indicam que houve 52 feiras-livres naquele ano, igualando os totais anuais estimados desde 1928. Nestas feiras, foram abatidos 7.124 bois, cujo quilo da carne custava em média 1$200; 304 ovinos, com preço médio idêntico por quilo e 1.560 caprinos, que era mais caro: mil e quatrocentos réis o valor médio do quilo.
O rebanho bovino decrescia, talvez vítima da seca que assolava a região: em 1928 eram 93 mil animais, passando para 103 mil no ano seguinte e decaindo para 95 mil em 1932. Já os ovinos, que foram 1.917 em 1928, chegaram a 3.220 dois anos depois e, em 1932, eram apenas 2.075. Somente o número de cabras registrou aumento: saltou de 5.366 em 1928 para 7.033 quatro anos depois.
Contribuindo para movimentar a economia local havia uma frota estimada em 28 veículos. Destes, 14 eram caminhões, dois eram motociclos e outros 20 eram bicicletas. Completavam esta frota 11 carroças e 13 carros de boi. Quem desejasse comunicar-se com outros locais dispunha de duas alternativas: através da agência postal (havia uma) ou via telégrafo.

População

Inchada pelos moradores de Santa Bárbara (15.526), a cidade tinha população à época estimada em 103.946 habitantes. Mas a sede era pequena em relação ao total de moradores, com 19.394 indivíduos. São José (com 13.426) e Humildes (com 10.397) destacam-se entre as localidades pertencentes à Feira de Santana. São Vicente contribuía com a menor população: 6.079 moradores.
Somente um hospital atendia aos mais de cem mil feirenses: a Santa Casa de Misericórdia, com 39 leitos, que se mantinha em funcionamento graças aos repasses de recursos dos poderes públicos. Dois jornais disputavam a atenção dos leitores feirenses: a Folha do Norte – que em 2009 completa um século de existência – e a Folha da Feira, ambos definidos como “semanários noticiosos”. Existia também uma associação beneficente (a Sociedade Montepio dos Artistas Feirense) e três musicais (Victoria, Euterpe e Philarmônica 25 de Março, conforme a grafia vigente então).
A cidade continuava sem água encanada, sem esgoto e sem energia elétrica domiciliar, mas pelo menos o prefeito, o coronel João Mendes da Costa, conseguiu equilibrar as finanças municipais: arrecadou 308:876$090 e registrou como gastos 306:768$821. No ano seguinte, graças às oscilações políticas da época, Elpídio Nova (o mesmo que perdeu o poder no ano anterior em decorrência da Revolução de 1930) retomaria o poder, onde permaneceria até março de 1935...

Comentários

  1. Oi, sou estudante de historia pela UEFS, e trabalho, ou melhor tento trabalhar com a seca em Feira nesse período, contudo não consigo achar fontes que retratem de forma mais precisa tal evento. Vendo que você conseguiu algumas informações sobre o período desejado, você poderia me informar os locais onde foram encontrados esses dados. Agradeço desde já
    meu email é : mel.araujo@yahoo.com.br
    ps: muito interessante sua proposta de retratar a historia de feira, já que poucos tem acesso a história da cidade. Muito legal o blog

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