Afirma o senso comum que o povo brasileiro não tem memória. No que se refere à conservação de informações estatísticas importantes sobre a História Brasileira, este raciocínio se confirma, principalmente em relação às cidades. Feira de Santana, infelizmente, não foge a esta regra e as referências às décadas passadas, quase sempre, são relegadas à memória dos que as viveram. A década de 1930 (particularmente o intervalo entre 1931 e 1937) em parte constitui uma louvável exceção. Nela começou a se construir uma estatística com informações econômicas e sociais sobre a Bahia e seus municípios.
Estes dados constam no Anuário Estatístico da Bahia publicado então. Através da leitura e da comparação, o leitor poderá acompanhar como evoluiu a Feira de Santana, que em contínua transformação, embora lenta, começava a ganhar as feições sob as quais a conhecemos hoje.
A Feira de Santana de 1931
No início de 1931, Feira de Santana ganhou um novo chefe do Executivo. Elpídio Nova, primeiro prefeito (até 1927 o chefe do Executivo era conhecido como intendente) e ocupando o cargo desde janeiro de 1928, foi destituído do poder pela Revolução de 1930, sendo substituído pelo Coronel João Mendes da Costa, que assumiu a função em março de 1931. À época o território feirense era bem maior que o atual. Além da sede, era composto pelas localidades de Bom Despacho, Bomfim, Remédios da Gameleira, Almas (atual município de Angüera), Humildes, São Vicente, São José das Itapororocas, Santa Bárbara e Tanquinho (estes dois últimos hoje também emancipados).
A Feira de Santana de 1931 não tinha água encanada, não tinha esgotamento sanitário e não tinha fornecimento de energia elétrica domiciliar: só havia iluminação pública, que se resumia a 446 luminárias e 368 domicílios atendidos, ao custo de 58 contos de réis. Uma empresa particular prestava o serviço, inaugurado oficialmente no dia 28 de agosto de 1928. A cidade também não era muito violenta, pois a Justiça julgou apenas 11 crimes (não especificados), além de 47 causas cíveis.
A educação era quase um monopólio feminino: havia 33 professoras e somente um professor, distribuídos por quatro escolas femininas, quatro masculinas e 18 mistas (este sistema misto já começava a predominar também na cidade à época). Não havia escolas particulares e matricularam-se 758 alunos e 636 alunas no total. Nos anos 30 a vitrine educacional da Feira de Santana era a Escola Normal (o ensino superior só viria cerca de quatro décadas depois), onde lecionavam três catedráticos. Também naquele estabelecimento as mulheres eram maioria: dos 102 estudantes matriculados em 1931, 87 eram do sexo feminino.
Rodovias
Cortada nos dias atuais por muitas rodovias, Feira de Santana em 1931 possuía uma malha viária muito precária. Como se sabe, nenhuma ferrovia passava pela cidade. E mesmo as rodovias eram muito deficientes: existia a Capital-Feira (com 144 km de extensão e que passava pelo município de Santo Amaro) a Feira-Candeal e a Diretoria de Estradas de Rodagem do governo baiano construía naquele ano a rodovia que ligava o município a Serrinha. Nenhuma dessas rodovias tinha pavimentação.
Existiam 469 comerciantes catalogados, detendo um capital de giro estimado em 5.358:000$000. Entre os trabalhadores, a remuneração mais atraente estava reservada aos ferreiros: nove mil-réis por dia; pedreiros e carpinas embolsavam oito mil-réis e os lenhadores bem menos: apenas três mil-réis. Mas a pior remuneração, sem dúvida, estava destinada aos chamados trabalhadores de enxada: recebiam míseros 2$500 por jornada de trabalho. Num ano em que dois prefeitos estiveram à frente do Executivo Municipal, as finanças públicas fecharam o exercício deficitárias. Elpídio Nova e João Mendes da Costa não conseguiram conter o déficit público: a prefeitura arrecadou 337 contos e 102 mil-réis, mas gastou 388 contos e 81 mil-réis. Talvez resultado das perturbações da Revolução de 1930, talvez reflexo da Grande Depressão que assolava o mundo à época ou talvez fruto da combinação de ambos os fatores.
Fiquei feliz em com o registro sobre a história de Feira de Santana. Elpídio Nova era meu avô por parte de pai ,Grimaldo Bahia da Nova, nascido em Feira de Santana de 06 de novembro de 1918 (falecido).
ResponderExcluirSou professor de História e Educador do Projeto Axé em Salvador.
Tenho interesse em saber mais informações sobre a sua administração.
Abraços
Caubi Nova