O modus operandi
que Michel Temer e seu PMDB estão empregando para produzir o maior retrocesso
civilizatório da História do Brasil já está bastante claro. O ponto de partida
é, sempre, um consenso fácil, uma dessas proposições tão lógicas que ninguém, à
primeira vista, consegue se opor. “´É necessário limitar os gastos públicos”,
apregoa o discurso oficial que reverbera na imprensa; ou “o Ensino Médio
precisa mudar”, constata-se nos gabinetes palacianos, com eco imediato junto à
mídia, apenas para ficar num segundo exemplo.
Qualquer imbecil sabe que é impossível gastar ad infinitum e ad aeternum, incluindo nessa lógica os cofres públicos. Até os
deputados do baixo clero conseguem entender isso. O problema não reside,
necessariamente, no diagnóstico, mas sim nas controversas soluções que são
colocadas como se fossem a única alternativa, a opção solitária.
Para conter a sangria nos gastos públicos o caminho
encontrado é a redução nos investimentos em saúde e educação, o arrocho sobre o
salário-mínimo, o achatamento e a redução dos benefícios sociais e
consideráveis exigências adicionais para o acesso à aposentadoria. Em síntese,
os trabalhadores e os mais pobres é que vão arcar com a “austeridade”.
Ninguém cogitou a extinção das indiscriminadas isenções
fiscais, que fazem a alegria do grande empresariado; não se falou em apertar os
sonegadores, que embolsam criminosamente parcelas consideráveis de impostos;
menos ainda se fala em cobrança de impostos dos mais ricos, que
proporcionalmente pagam muito menos que os mais pobres; e não se vê debate
sobre eventuais freios às milionárias aposentadorias do habitual magote de
privilegiados.
Há, claro, um tabu: o dinheiro da banca, os 40% do orçamento
da União que sustentam a ciranda financeira dos multimilionários, é intocável.
Podem sobrevir epidemias, crises humanitárias, necessidades sociais, descalabros
econômicos, o que for: o rico dinheiro dos financistas internacionais é
sagrado. Nele, ninguém toca. E é tema também que não se discute.
A encalistrada “onda azul” que varreu os “vermelhos” e suas
ameaças comunistas vive dias de glória. Afinal, as cobranças por resultados
ainda não começaram. Mas não tardarão: a crise está aí, os serviços públicos
permanecem lastimáveis e o futuro, para o brasileiro médio, é cada vez mais
sombrio. Basta entender o que está se passando para perceber que não existem
motivos para esperanças.
No entanto, o presente sem cobranças, pejado de
retórica vazia, explica, em parte, o êxtase impudente dos rufiões da democracia
encastelados no poder.
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