Ao longo do
ano passado muita gente relutou em admitir que o Brasil começava a atravessar
uma severa crise econômica, certamente a mais profunda em mais de um século.
Alguns, por questões políticas: aceitar a recessão implicava em colocar-se na
defensiva, depois de quase uma década da frenética pujança consumista legada
pelo lulopetismo, que perdia o discurso a partir da debacle econômica. Outros mostraram-se arredios mais por questão de
temperamento, de dificuldade em aceitar que o País ingressava em uma quadra
dura, de desemprego elevado e de consumo declinante. São os otimistas
incorrigíveis.
Enquanto
a recessão transitou pelo noticiário, com os esotéricos indicadores econômicos
em gráficos indecifráveis, tudo bem: aquilo assemelhava-se aos incessantes
debates estéreis que a imprensa teima em repisar, sem efeitos práticos. Pouco a
pouco, porém, a crise foi migrando da retórica e dos indicadores para a vida
real: muitos foram perdendo seus empregos, outros tantos viram seus negócios
minguarem, impactando sobre a renda.
Os
primeiros sinais, sutis, começaram a ser percebidos aos poucos. As filas nos
supermercados e nas padarias diminuíram, sobretudo nos horários de pico. Os
insanos engarrafamentos foram encurtando, aporrinhando menos, sem nenhuma causa
milagrosa: a queda na renda e a elevação no preço dos combustíveis forçaram
muitos a manter seus veículos nas garagens, esvaziando as ruas.
Bares e restaurantes foram perdendo clientes,
porque as constantes incursões noturnas pesaram no orçamento. O valor da conta,
que nos tempos de bonança não assustava, passou a ser destinado às necessidades
mais urgentes. Com isso, a perversa espiral declinante eliminou muitos empregos
no outrora promissor setor de serviços, que experimentava um boom inédito nas últimas décadas.
Setor Imobiliário
Nos últimos meses a crise passou a
pontuar a paisagem sob uma outra perspectiva: a da imensa oferta de imóveis comerciais
para venda ou aluguel. Há apenas uns poucos anos era difícil achar loja
disponível ou mesmo uma sala no centro da Feira de Santana: os negócios
prosperavam e muitos disputavam esses espaços com sofreguidão. Parecia que tudo
aquilo que se punha à venda tinha demanda assegurada.
Aos
poucos, desde o ano passado, a situação foi mudando. Muitos empresários
tentaram resistir, heroicamente, à falência: recorreram a promoções, enxugaram
o que podiam, mas a profundidade e a extensão da crise impediram a continuidade
de inúmeros negócios. Dessa forma, tristes queimas de estoque anunciavam,
antecipadamente, mais uma baixa provocada pela crise.
Com
isso, placas e cartazes apelativos começaram a se espalhar pelo centro da
cidade e adjacências, anunciando a venda ou o aluguel dos mais diversos imóveis
comerciais. Com o tempo, muitos desses anúncios se desgastam, rasgam-se, denotando
o esforço vão. Afinal, a recessão segue feroz, mordiscando trabalhadores e
empresários. A grande imprensa, depois da deposição de Dilma Rousseff (PT), até
tenta atenuar a situação, enxergando sinais de arrefecimento da crise, sem
convencer.
Otimista,
o novo governo enxerga modesto crescimento do Produto Interno Bruto – PIB para
o ano que vem, algo em torno de 1,2%. Muito pouco para as imensas necessidades
do País, que mais uma vez viu se diluírem as vãs esperanças de um ciclo
duradouro de crescimento. De qualquer forma, talvez a partir de 2017 comecem a se
reduzir os incontáveis cartazes de “vende” e “aluga” que tornam deprimente a paisagem
do centro comercial da Feira de Santana.
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