Não sou candidato a prefeito da Feira de Santana. Não sou
e, sinceramente, não tenho vontade, nem vocação, para a função. Sequer mantenho
filiação partidária e confesso meu profundo desânimo quando imagino os rituais
que cercam o cargo: saudações e apertos de mão, discursos frequentes, conchavos
de bastidores, incontáveis reuniões para encaminhar a burocracia e o
interminável suceder de solenidades fastidiosas. Isso para não mencionar a
indumentária: o paletó habitual, o desconfortável guarda-roupa social, mesmo
quando se vai à zona rural ou ao Centro de Abastecimento, em manhãs ou tardes
incandescentes de verão.
Mas, embora não alimente intenções eleitorais – no
máximo, fui dirigente do Diretório Acadêmico de Economia da Uefs, em época de movimento
estudantil – não me furto a pensar a Feira de Santana e suas necessidades em diversas
crônicas publicadas na imprensa local. Ou em conversas – formais e informais –
com gente que também pensa a vida da cidade. Encaro atividades do gênero,
inclusive, como obrigação profissional.
Debates dessa natureza intensificam-se sobretudo em
períodos eleitorais, como 2016, quando os feirenses elegerão prefeitos e
vereadores. Assim, embora não almeje galgar a escadaria do Paço Municipal –
pelo menos como prefeito, reitero – arrisco-me a lançar algumas propostas que
considero essenciais para o futuro do município. Ideias decorrentes de algumas
conversas e da intensa observação da vida da cidade.
Circunscrevo-me aqui, especificamente, à seara da cultura.
E partindo de uma abordagem com recorte determinado: o hiato existente entre
aquilo que ocorre na vida cultural da cidade e o que o poder público,
propriamente, realiza. Poder público que, obviamente, não se limita à
prefeitura. Evito, também, a fórmula fácil de acusar os governantes de “não
fazer nada”.
Bibliotecas
Feira de Santana, por exemplo, segue carente de
bibliotecas. Existe uma única biblioteca pública – a Arnold Silva, ali perto do
fórum – que já não dá conta das necessidades do município, ampliadas nas
últimas décadas. Bibliotecas nos bairros – em espaços cedidos pela iniciativa
privada ou por Ong’s, funcionando a partir de parcerias – poderiam alavancar o
acesso à leitura, disponibilizando livros e, quem sabe, acesso ao mundo digital
na periferia carente da cidade.
Quatro
ou cinco desses espaços já poderiam sinalizar para uma pequena revolução
cultural no município. Além da escola, do posto de saúde e da quadra de esportes
– equipamentos habituais – bibliotecas comunitárias sinalizariam a afinidade do
município com a cultura. Caso não fosse a invencível antipatia dos políticos
tradicionais pela cultura, avanços do gênero já poderiam ter sido alcançados
pela população.
O
município carece, também, de dinamização dos seus espaços culturais. Os poucos
equipamentos disponíveis, normalmente, não estão acessíveis para a maioria
daqueles que produzem cultura no município, sobretudo os jovens. Quem produz
cultura deseja ser visto e a população feirense tem uma imensa carência por
alternativas de lazer: eis os dois lados de uma equação que deveria ser
resolvida pelo poder público, com ganhos para todos.
Micareta
A
Micareta feirense, desde 2000, está estagnada na avenida Presidente Dutra. Ano
após ano, nada muda: os mesmos artistas, as mesmas estruturas, os mesmos
chavões e, por consequência, a mesma previsibilidade. A festa precisa ser
oxigenada e aqueles que, potencialmente, poderiam dinamizá-la, os
representantes da cultura feirense, não são chamados para discuti-la.
Neste
2016, a propósito, houve mudanças interessantes em Salvador e o fortalecimento
dos blocos de rua em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por aqui, esse esforço para
afastar a pasmaceira deveria servir de inspiração. Lançadas num projeto bem
elaborado, poderiam inspirar a festa a partir de 2017, valorizando as
manifestações culturais existentes e viabilizando o surgimento de outras.
Não
pretendo, obviamente, esgotar o tema de um programa para a cultura numa
meia-dúzia de linhas, mesmo que me falta estofo para tanto. Mas é necessário
reivindicar mudanças, visualizá-las, sugerir caminhos, incentivar a discussão.
Candidato que, de fato, pretende mudar a vida da cidade, precisa discutir,
colher propostas e buscar meios de viabilizá-la. Senão permaneceremos
estacionados na avenida Presidente Dutra...
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