Em meados de
janeiro a frota de ônibus novos, pertencente às empresas vencedoras da
licitação ocorrida ano passado, começou a circular com estardalhaço pelas ruas
da Feira de Santana. Dizia-se – com razão – que pela primeira vez o feirense
dispunha de uma frota inteira de veículos totalmente novos para circular pela
cidade. Nesse sentido, não restam dúvidas que houve um avanço elogiável em
relação à triste realidade que sempre caracterizou o transporte coletivo no
município, sobretudo nos últimos anos. Afinal, o feirense vinha penando há tempos
circulando em veículos velhos e malcuidados.
A
disponibilidade de veículos novos é uma das medidas mais importantes para garantir
o mínimo de dignidade ao transporte público em qualquer lugar pretensamente civilizado.
No entanto, ao contrário do que alguns podem imaginar, não é a única iniciativa
e, isoladamente, por si só, é incapaz de assegurar o funcionamento exitoso do
sistema. É a percepção que parece estar faltando na Feira de Santana.
Essencialmente,
o município convive com um conjunto de problemas estruturais no transporte
público sobre o qual a oferta de ônibus novos não produz nenhum efeito: terminais
e demais equipamentos – como os pontos de ônibus – precários e mal conservados;
roteiros equivocados, que não atendem às demandas dos usuários; quantidade de
ônibus insuficiente, sobretudo em bairros periféricos; vias de circulação em
situação precária; e valores das tarifas elevados.
Há anos os
chamados terminais de integração na Feira de Santana apresentam condições deploráveis:
sujeira, insegurança, sanitários interditados, assentos quebrados e estruturas
danificadas, o que torna penosa a permanência dos feirenses nesses espaços. Isso
sem contar os prolongados descansos autoconcedidos por motoristas e cobradores
quando chegam aos terminais. Pelas ruas, os pontos não oferecem o mínimo de
conforto ao passageiro, isso quando os vândalos não se dedicam a danificar o
que existe.
Outra grande
queixa dos feirenses é o roteiro das linhas: trajetos irracionais somam-se à
concentração de veículos por determinadas vias do centro da cidade – como a
avenida Senhor dos Passos – e, por outro lado, equipamentos essenciais à vida
da cidade, como a Rodoviária, contam com o fluxo de pouquíssimos ônibus. Essa
distribuição irracional dos roteiros leva o feirenses a extensos deslocamentos
ou à espera de mais um ônibus para chegar ao destino.
Mais problemas
A oferta
limitada de ônibus é outro problema que, embora parcialmente atenuado nos
últimos dias, continua causando transtornos. O drama é maior exatamente nos
bairros periféricos e densamente povoados – como os conjuntos populares que
surgiram nos últimos anos –onde as esperas se arrastam, intermináveis,
sobretudo nos fins semana. Para quem tem compromissos, então, é ainda pior.
É justamente a limitação na oferta do
transporte coletivo que alimenta o transporte clandestino, alvo de intensas – e
justas – reclamações dos empresários. O transporte clandestino, a propósito, é
uma chaga que remonta aos anos 1990 e que, sabe Deus o porquê, prefeito e secretário
nenhum consegue erradicar. Precariedade na oferta do transporte convencional e
prodigalidade da fiscalização constituem os principais combustíveis que induzem
o feirense a recorrer à frota alternativa.
Por fim, é
necessário reconhecer que os reajustes cada vez mais constantes na tarifa são
um grande estímulo à queda no número de passageiros. Afinal, o País atravessa
uma crise econômica intensa que, só no ano passado, varreu quase sete mil
empregos no município. Não haveria, portanto, momento mais impróprio para
penalizar a população com passagens mais caras. Quem pode, compra uma dessas
motonetas e sai adoidado, contribuindo para tornar o trânsito feirense ainda
mais infernal.
Há, ainda, um
elemento que não se relaciona diretamente à política de transporte público, mas
que produz efeitos sensíveis sobre esta: o estado de conservação das ruas e
avenidas da cidade. Há bairros cujas vias são um imenso suceder de crateras; na
zona rural, basta uma chuva para determinados trechos ficarem intransitáveis.
Não é à toa que as fotos de ônibus quebrados são tão comuns nas redes sociais.
Essas questões
mostram que a oferta de um sistema de transporte público de qualidade vai além
da oferta de uma frota de ônibus inteiramente nova. Noutras palavras, o debate
segue necessário, sobretudo em ano de eleição.
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