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Trovoadas e políticas públicas para o semiárido




Chuvas torrenciais desabaram sobre diversas regiões da Bahia ao longo dos últimos dias. Os efeitos foram conferidos nas imagens de tevê e circularam pela Internet: ruas e avenidas alagadas interior afora, rios transbordando, moradores desabrigados, carros arrastados pela força das águas e, em Brumado, no Sudoeste, uma barragem transbordou, extravasando uma volumosa torrente, que escorreu furiosa, assustando os moradores.
Precipitações pluviométricas mais intensas, nesse período, são comuns: no sertão, as chuvas mais fartas costumam desabar entre outubro e fevereiro. Há regiões, no entanto, em que a natureza é mais avara: na microrregião de Guanambi e Caetité, por exemplo, caso não chova entre outubro e novembro – como ocorreu – as dificuldades tornam-se maiores, já que as precipitações posteriores são raras e menos intensas.
As chuvas dos últimos dias, que tem, inclusive, uma classificação pomposa – Zona de Convergência do Atlântico Sul – tendem a atenuar os rigorosos efeitos da seca que, em alguns municípios do semiárido, arrasta-se há, pelo menos, três anos. Podem não confirmar o fim da estiagem, mas representam um aporte hídrico numa região cujo nível de escassez tornou-se crítico.
A trégua transitória, porém, não pode servir de justificativa para o arrefecimento das discussões sobre a questão do semiárido. Nessas eleições de 2014, o tema figurou com muita frequência nos programas eleitorais. Com a conclusão do processo eleitoral, resta aproveitar o momento oportuno e refinar o debate, formatando políticas públicas mais consistentes, voltadas para o convívio com o fenômeno das secas.
A histórica incapacidade do Estado de lidar com o fenômeno habitualmente se manifesta justamente aí: a comoção despertada pelo drama, a soma de esforços governamentais para enfrenta-lo, a discussão mais intensa nas eleições, a sensibilização da classe política e a própria pressão da população do semiárido são impulsos formidáveis para se pensar políticas de longo prazo, capazes de promover uma emancipação, de fato, sustentada. Mas essa oportunidade, até aqui, sempre se perdeu.
Por quê? Em parte, a resposta está no aparente êxito das políticas de curto prazo: carros-pipa, cestas básicas e seguros-safra atenuam transitoriamente o problema e, às vezes, rendem votos. Quando as primeiras trovoadas desabam – como ocorreu nessa semana – empurra-se o problema para lá adiante, quando mais uma seca – previsível, inclemente e inevitável – volta a acossar os sertanejos, exigindo as mesmas medidas emergenciais.
Dessa forma, o contexto favorável à formulação de políticas mais perenes para o semiárido costuma ser perdido no intervalo entre as esperadas trovoadas e as primeiras colheitas dos efêmeros intervalos de fartura, quando a urgência da discussão perdeu fôlego e as imagens do drama recente já se perderam na memória da maioria das pessoas.
Em relação a essa seca mais recente, o cronômetro já foi acionado e a contagem regressiva está em andamento...

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