Tradicionalmente
a Feira de Santana sempre exerceu uma forte atração sobre os migrantes. Isso
desde o tempo em que, no início do século XIX, começava a prosperar a
feira-livre que desenvolveu o arraial que, lá adiante, tornou-se uma vistosa
cidade comercial, já em meados do século XX. No começo era pouco mais que um
ponto de apoio: aqui aportavam viajantes dos sertões longínquos, tocando
boiadas cujo destino eram os abatedouros que abasteciam Salvador e o Recôncavo
próximo.
Estradas
diversas foram sendo rasgadas pelo interior, conduzindo às proximidades da
Igreja Matriz. O movimento, que se estendeu por décadas, viabilizou transações
comerciais, enriqueceu comerciantes, abasteceu importantes entrepostos baianos
e plantou as sementes da cidade próspera e acolhedora que ia desabrochar a
partir dos anos 1960.
Na segunda
metade do século XX a Feira de Santana tornou-se tipicamente urbana.
Incontáveis levas de migrantes encontraram abrigo na cidade que se desenvolvia
e se industrializava. Datam dessa época os mais maciços fluxos de
pernambucanos, cearenses, sergipanos, alagoanos e demais nordestinos que
buscavam, aqui, melhores oportunidades de vida. Muitos fugiam das secas
inclementes que castigam os sertões com frequência.
Foi o
movimento contínuo de imigrantes que estigmatizou a Feira de Santana, pejorativamente, como
“terra de forasteiros”. Esse título permite visualizar distintas matizes. Por
um lado, vê-se o município sem cultura ou identidade, forjado pela ânsia do
mercadejar e do lucro; mas, por outro lado, foram esses fluxos que fortaleceram
sua diversidade cultural, impulsionaram o desenvolvimento e consolidaram a
condição de importante polo regional no Nordeste.
Tendência recente
Em meados do século XX a transição
populacional do meio rural para os espaços urbanos perdeu fôlego no Brasil, com
reflexos sobre a Feira de Santana. Com essa inversão de tendência, a população
passou a crescer mais lentamente, com menos filhos e menor migração. Dados do
IBGE para o período 2005-2010 ilustram esse fenômeno.
No período,
saíram mais pessoas da Feira de Santana que
chegaram: foram 7,4 mil imigrantes e 11,4 mil emigrantes. O destino preferencial de quem se desloca é
São Paulo: 2,2 mil pessoas vieram do estado do Sudeste, contra exatas 5.011
pessoas que partiram. Provavelmente muito desse movimento se deve ao intenso
vai-e-vem de nordestinos que buscam oportunidades nas grandes cidades paulistas
ou que retornam, após temporadas a trabalho.
O Rio de
Janeiro é a segunda opção dos migrantes: 688 chegaram e 850 partiram no mesmo
período. Na sequência, vem Minas Gerais, com 433 imigrantes e 744 emigrantes,
respectivamente.
Nordeste
Pernambucanos
e cearenses seguem se deslocando para a Feira de Santana: por aqui aportaram,
respectivamente, 652 e 603 pessoas desses estados, entre 2005 e 2010. Esse
movimento é compreensível: mais do que levas de retirantes em busca de
oportunidades, podem ser familiares de imigrantes há mais tempo radicados na
cidade.
Os números
referentes a São Paulo e Rio de Janeiro, por sua vez, são reflexos de
tendências antigas, mas que já não acontecem com a mesma intensidade. Por um
lado, o Nordeste oferece hoje melhores oportunidades para sua população; por
outro lado, o Eldorado paulistano já não é o mesmo de décadas passadas.
Em linhas
gerais, pode-se entender que a Feira de Santana já não vive, há tempos, a febre
migratória que a caracterizou há algumas décadas. Mudanças profundas na
sociedade brasileira reduziram as migrações maciças, por um lado, e abriram
novas oportunidades de migração, por outro. Não deixa de ser uma boa notícia:
expansão populacional mais lenta facilita os investimentos para melhorar a qualidade
de vida do município.
Comentários
Postar um comentário