Um dos maiores consensos existentes na Feira de Santana é de que uma das únicas opções de lazer da cidade são os bares. A constatação é antiga e, em alguma medida, embute o sentimento de inferioridade que o feirense nem sempre admite, mas alimenta em relação a Salvador: enquanto a capital conta com praias e diversos atrativos naturais, além do valiosíssimo, mas pouco preservado patrimônio arquitetônico, a Feira de Santana só tem os olhos d’água que vão se extinguindo juntamente com as lagoas que a voracidade imobiliária consome.
Lá nos limites do município, entre muitos mandacarus espinhosos e alguns lajedos, existe o Rio Jacuípe de águas escuras e superfície calma, mas que nunca encheu o olho dos feirenses como alternativa de lazer. Afora alguns freqüentadores assíduos ou moradores das redondezas, pouca gente vai às margens do rio comer o peixe pescado ali mesmo, bebericar uma cerveja e jogar conversa fora.
A maioria dos feirenses provavelmente conhece o Jacuípe da mesma forma que os viajantes em trânsito pela cidade: passando de carro sobre a ponte. Quando muito, espicham o olhar e alcançam os morros redondos em volta ou a água eriçada pelo vento quente.
O desdém pelo Jacuípe não é obra do acaso: as reiteradas notícias sobre afogamentos, bebedeiras à margem do rio, confusões e até assassinatos ganharam amplitude com os comentários e consolidaram a visão negativa que prevalece até os dias atuais.
Poluição
Nos últimos anos esforços pontuais de empreendedores privados buscam valorizar o Rio Jacuípe. Até o Fluminense de Feira começou a construir ali uma sede social que, aparentemente, está com as obras suspensas. Caso se concretize, a iniciativa pode alavancar o clube e revitalizar o rio.
Mas, mesmo elogiáveis, os esforços necessitam de coordenação. Talvez o maior desafio do Jacuípe, no momento, seja a poluição. As ervas conhecidas como baronesas, que formam ramificações de dezenas de metros e a espuma que avulta nas imediações da comunidade dos Três Riachos sinalizam que o problema é crônico.
Os esgotos não-tratados que escorrem abundantes para o rio provavelmente são a causa maior da poluição. Nada de novo, portanto, já que esta é a principal causa da contaminação da maioria dos rios brasileiros, sobretudo daqueles que estão próximos de áreas urbanas.
Atrativos
Melhorando as condições ambientais do Rio Jacuípe estarão lançadas as bases para a revitalização. Serão necessários, no entanto, investimentos em infraestrutura – as vias trafegáveis não estão em boas condições e, em alguns pontos, nem existem – e em transportes, já que não existem linhas regulares nem eventuais para aquela direção.
Outra iniciativa necessária é a realização de estudos para a mensuração do potencial turístico do Jacuípe, incluindo aí o plano de manejo ambiental. E, sobretudo, articulação com empreendedores privados para colocar o rio como alternativa de lazer para o feirense e de turismo para eventuais visitantes.
Obviamente, o caminho não é fácil e nem rápido. O problema é que nunca se dá o primeiro passo, nem mesmo para reduzir a poluição que assola o Jacuípe. Sem sequer esse passo, o feirense permanece sem grandes alternativas de lazer, condenado às mesmas mesas de bar todos os finais de semana...
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