Londrina é um município no norte do Paraná, quase na divisa com São Paulo. Aos domingos, no centro da cidade, é montada uma feira-livre nas proximidades de um cemitério. No início da manhã há um incessante ir-e-vir de consumidores com sacolas coloridas, mesmo nos dias frios de inverno. Lá pelo meio da manhã o movimento começa a declinar e, no início da tarde, praticamente não há comerciantes no local. A grande – e grata – surpresa para um eventual visitante que tenha partido da Feira de Santana, por exemplo, é a constatação de que não há lixo espalhado pela rua.
A feira-livre no centro da cidade paranaense oferece os mesmos produtos de qualquer entreposto nordestino: há tomate, repolho, batata, maçãs e uvas. A diferença fundamental é que os produtos são manuseados com um asseio disciplinado, inclusive sendo oferecidos aos consumidores já embalados em plástico transparente. Folhas descartadas e frutos estragados não são jogados de forma displicente nas vias públicas, como ocorre em muitas feiras-livres do Nordeste: há recipientes apropriados para armazenar o lixo.
Porém, inimaginável para os padrões culturais da decadente aristocracia nordestina – e baiana – é um mercado funcionar como ponto turístico. Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o mercado público atrai inúmeros visitantes diariamente. Contrariando os padrões vigentes na Feira de Santana, a organização e a limpeza estão muito próximos daquilo que é oferecido em alguns grandes supermercados.
Em São Paulo os mercados e as feiras-livres também constituem pontos turísticos e despertam as atenções da comunidade acadêmica, que produz estudos interessantes. Esses trabalhos, a propósito, abordam múltiplas dimensões – inclusive a cultural – e eventualmente orientam decisões dos governantes.
Abandono
Na Feira de Santana vive-se uma situação exatamente oposta. O principal espaço comercial do município é o Centro de Abastecimento, que sofre deterioração desde que foi inaugurado em meados dos anos 1970 e, pelo que se percebe, vai permanecer como está ninguém sabe até quando.
Numa rápida visita nota-se fiação exposta, banheiros depredados, esgotamento precário, buracos nas vias de circulação, boxes construídos indevidamente, antigos galpões mal-conservados, falta de segurança e muita sujeira. Reformas estão fora de cogitação, já que se alega eterna falta de recursos. O que mais espanta, no entanto, é a imundície permanente, tão incrustada, que se tornou hábito.
Desnecessário dizer que o lixo acumulado espanta os consumidores, intimida potenciais freqüentadores e afeta a lucratividade global do entreposto. Recentemente a prefeitura noticiou uma ação para manter o local mais limpo, inclusive com multa para os comerciantes infratores. Caso o esforço se torne permanente, será um passo adiante, embora a punição sempre produza resultados menos satisfatórios que a educação.
Cultura
Qualquer investimento em infra-estrutura, no entanto, é fadado ao fracasso quando não se aposta numa mudança de mentalidade. O Centro de Abastecimento precisa ser entendido e resgatado como um espaço de produção da cultura que ajudou a construir a cidade que soma cerca de 550 mil habitantes.
As autoridades políticas que se alternam no poder há mais de três décadas jamais entenderam a feira-livre removida da Praça da Bandeira para o Centro de Abastecimento sob as dimensões social, cultural, política e simbólica. Preferiram apostar na multiplicação do banco e da indústria, julgando que essa é a única forma de construção do progresso e da prosperidade.
Esses mitos surgiram, tiveram seu momento de sucesso nos anos 1970/1980 e, depois, caíram em declínio. Infelizmente, na Feira de Santana poucos governantes notaram essas transformações. Com potencial para gerar postos de trabalho, produzir inclusão social, fortalecer a cultura e a identidade feirenses, o Centro de Abastecimento continua à míngua, à sombra dos viadutos que se tornaram a nova coqueluche da província.
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