Semana passada a edição impressa da Tribuna Feirense trouxe duas notícias lamentáveis. A primeira delas é que estudantes residentes na zona rural do município têm aulas em uma casa de farinha, espaço absolutamente inadequado para que crianças ou adolescentes desenvolvam atividades escolares. A outra é que a abertura do restaurante popular no Centro de Abastecimento – o que constitui uma realização elogiável – absorveu boa parte da clientela dos restaurantes que funcionam no entreposto, levando-os ao risco de falência e à perda de muitos postos de trabalho. Ambos os fatos demonstram fragilidades dos gestores do município nos últimos anos.
Feira de Santana é uma cidade que recebe recursos significativos para a manutenção do ensino fundamental através de repasses federais. E mesmo que sejam insuficientes, resta a alternativa de se investir recursos próprios, o que demonstraria o interesse dos gestores em oferecer uma educação de qualidade.
É inconcebível, portanto, que jovens e crianças tenham que se adaptar a uma casa de farinha para estudar. Tomara que a prefeitura adote uma solução imediata providenciando transporte escolar para que os estudantes possam pelo menos freqüentar aulas em uma escola de verdade, mesmo que mal-conservada, como quase todas as escolas da zona rural e da periferia de Feira de Santana.
Episódios recentes, como a demora na oferta da merenda no primeiro semestre do ano passado e o desvio da mesma merenda de um depósito da prefeitura flagrado em meados do ano mostram que o problema é muito mais de gestão que de falta de recursos.
Centro de Abstecimento
Há uns três anos, fiz um artigo nesta mesma Tribuna Feirense alertando que a construção de um restaurante no Centro de Abastecimento ia afetar a atividade dos comerciantes de alimentos. A obra é bem vinda, mas faltou política pública – ou gestão – para qualificar os comerciantes, direcionar suas atividades especializando-os e prepará-los para o novo cenário.
Nada disso foi feito e essas pessoas agora sofrem as conseqüências da omissão do poder público no bolso. Postos de trabalho podem ser perdidos com a queda nas vendas, porque alternativas não se colocam no curto prazo. Resta à prefeitura – ou ao governo do Estado, caso seja acionado – estudar a situação e apresentar medidas paliativas.
Há muito tempo, a propósito, o Centro de Abastecimento é gerido através de paliativos. Improvisam-se reformas, fazem-se “puxadinhos” sem respaldo técnico, improvisa-se o recolhimento do lixo, improvisa-se na qualificação do espaço. Lamentável para um entreposto que deveria ser motivo de orgulho para a Feira de Santana.
Mais
Infelizmente a cidade ainda vive no tempo em que governar era calçar ruas com paralelepípedos, inclusive sem saneamento básico ou quaisquer outras melhorias. O máximo de modernidade que se permite é a construção de uma meia-dúzia de viadutos de prioridade duvidosa, favorecendo basicamente quem tem carro.
Educação, saúde, qualificação profissional, políticas de inclusão social e de defesa do meio-ambiente estão, a cada dia, mais presentes nas demandas da sociedade. Feira de Santana, todavia, ainda vive no tempo dos paralelepípedos jogados junto a montes de areia, atormentando a vida dos cidadãos, mas sinalizando que o “prefeito está trabalhando”.
“Trabalho” hoje exige capital intelectual e capacidade de enxergar os problemas. Quem mais enfrenta problemas são os mais pobres, que devem constituir o foco principal dos governantes. O noticiário da Tribuna Feirense mostra que, na Feira de Santana, ainda não chegamos no século XXI em termos de administração pública.
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