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A importância do Plano Diretor para o comércio informal



               
 O impasse que envolve a relocação dos camelôs, ambulantes e feirantes no centro da Feira de Santana voltou ao noticiário na semana passada. Isso por conta da louvável audiência promovida pela Câmara Municipal para discutir a questão. Pelo que o noticiário sobre o evento deixou transparecer, há inúmeros consensos envolvendo o tema. É a partir desses consensos – em que pesem as inúmeras controvérsias envolvidas - que vai se chegar a soluções mais duradouras, como todos anseiam.
         O primeiro consenso é lógico: como está, a situação não pode permanecer. A expansão desordenada do comércio informal sufoca as principais artérias do centro comercial, prejudicando todos: os comerciantes formais e suas lojas; os consumidores expostos às aglomerações e à insegurança; e os próprios camelôs e ambulantes, que trabalham sob condições absolutamente precárias.
                Deriva desse consenso um raciocínio igualmente óbvio: as vias comerciais devem ser desobstruídas para facilitar o fluxo de consumidores. O principal imperativo para a medida é a segurança: as insanas aglomerações – principalmente em períodos festivos, como o Natal que se aproxima – facilitam a vida dos criminosos e podem provocar tragédias, em caso de tumulto ou de um incêndio com consequências catastróficas, como apontou a própria Tribuna Feirense.
                Esses consensos relativos reportam-se à questão crucial: onde instalar milhares de camelôs, ambulantes e feirantes que mercadejam nas ruas da Feira de Santana? Como ordenar o vigoroso comércio informal sem comprometer a vitalidade que o alimenta? Alguns caminhos apontados na audiência pública são alternativas interessantes.

                Verticalização

                A construção de entrepostos comerciais devidamente estruturados na região central da cidade é a alternativa mais razoável. Definir o espaço mais apropriado, elaborar um projeto bem feito, celebrar um convênio com a União e mobilizar a bancada dos deputados federais baianos – e feirenses – para apresentação de emendas, por exemplo, é uma das estratégias potencialmente utilizáveis.
                A questão é que não se sabe, com clareza, o que a prefeitura pretende. Que espaços o Executivo Municipal pretende destinar ao comércio informal? Há um levantamento recente e confiável sobre quantos trabalhadores dedicam-se à atividade? Todos serão relocados? Qual o prazo para solucionar o problema? Essas questões não tem respostas conclusivas até o momento. Caso houvesse, o imbróglio certamente seria menor.
                A questão do ordenamento do comércio informal no centro da cidade, no entanto, não se esgota em si mesma. Deveria se vincular à perspectiva macro de uma política de planejamento urbano para o município, que vá além dos paliativos eventuais; deveria, também, articular-se com as concepções mais amplas de desenvolvimento econômico para a Feira de Santana.

                 Perspectivas

                Pensar o centro da Feira de Santana – e de qualquer grande cidade – não deve se resumir à busca emergencial de soluções para problemas visualizados de forma fragmentada, como a questão do comércio informal. A expansão das áreas comerciais do centro da cidade, a desobstrução do trânsito, o uso pela população de espaços coletivos – como as praças – deveriam ser pensados de forma global para se buscar soluções integradas e mais duradouras. Incluindo aí, óbvio, o tema do comércio informal.
A diferença entre essa perspectiva e o imediatismo que orienta a discussão hoje é o eterno surgimento de novos problemas; o incômodo e o desconforto para quem frequenta o centro da cidade; a baixa qualidade dos serviços prestados e os riscos permanentes de assaltos, furtos ou de um incêndio de grandes proporções no calçadão da Sales Barbosa, por exemplo.
                A relocação de camelôs, ambulantes e feirantes é o tema das últimos dias na Feira de Santana. A questão, porém, é que soluções consistentes exigem um planejamento global que não existe no momento. É nesse momento que se percebe como faz falta a existência de um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano...


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