Já faz muito
tempo: no longínquo 11 de agosto de 1993, Bahia e Vitória pisaram o gramado da
Fonte Nova para se enfrentar pelo efêmero torneio Bahia-Pernambuco. Ao final
dos 90 minutos o placar anotava 3x0 para o Vitória, gols de Claudinho, duas
vezes, e Pichetti. Ironicamente, mais tarde o Bahia sagrou-se campeão do
torneio que não voltou a se repetir, vencendo os pernambucanos Santa Cruz e
Sport no Recife. Aquela partida esquecida inaugurou uma incômoda rotina para o
Bahia: ser goleado nos clássicos.
Meses
depois, o sufoco se repetiu em dose dupla: logo a 27 de fevereiro de 1994, em
novo clássico na Fonte Nova, o Vitória enfiou um 4x0, com gols de Dão, Pichetti
(duas vezes) e do ex-tricolor Ramon Menezes. Não demorou muito para novo
encontro e nova goleada por 4x0: em 10 de abril, Alex Alves (2), Ramon Menezes
e Vampeta construíram o placar de nova goleada e nova humilhação.
Naquele
ano, o Bahia ainda era o Bahia: numa sequencia vertiginosa de cinco clássicos
pelo mesmo Campeonato Baiano, o tricolor atropelou o rival em todos os jogos,
sem sofrer sequer um gol (2x0, 1x0,1x0, 2x0 e 2x0). Não houve nenhuma goleada,
mas os resultados consolidaram o caminho para o clássico final na Fonte Nova,
em 7 de agosto, quando o empate em 1x1, com um gol de Raudinei nos descontos,
assegurou o bicampeonato baiano para o tricolor.
Entre
1995 e 1997 o Vitória conquistou seu primeiro tricampeonato, com superioridade
incontestável. Em 1995, dos sete clássicos, o Bahia venceu somente um e, em 14
de maio, levou nova goleada: 4x1, com dois gols de Ramon Menezes, carrasco
tricolor na temporada com seis gols. No ano seguinte, mais uma goleada no
Baianão: 5x2, com dois gols de Adoílson no clássico.
1997
foi de tirar o fôlego do tricolor: Vitória tricampeão e, de quebra, campeão da
Copa do Nordeste. O triste repertório de goleadas voltou a se repetir: 3x0 três
vezes e, de quebra, um 4x2 numa Fonte Nova com mais de 97 mil pagantes. Como inútil
prova de resistência, o Bahia venceu um Ba x Vi no Barradão, por 3x1.
Alívio
Depois de tantas
humilhações, o Bahia reagiu em 1998: aplicou um 3x0 no clássico que definiu o
campeão do primeiro turno, em pleno Barradão. Uéslei, duas vezes, e Marquinhos
construíram o placar. Para não perder o hábito, o Bahia acabou eliminado do
Campeonato do Nordeste pelo rival, com uma derrota por 3x1.
Em
1999 e 2000 boas notícias: o Bahia não sofreu nenhuma goleada e, em 2000, até
conseguiu enfiar um 3x0 no rival, pelo Baiano, em 18 de junho. O problema é que
em 1999 o Bahia fugiu da decisão do Baiano no Barradão (anos depois o título
foi “dividido” pelas duas equipes), embora tivesse vantagem no jogo da volta. Em
1999, pra variar, foi eliminado da Copa do Nordeste pelo Vitória, que em 2000
sagrou-se campeão baiano.
Aparentemente,
o século XXI começou bem para o Bahia: goleou o rival no primeiro clássico da
década e do século com respeitáveis 4x1. Nonato e Robson, com dois gols cada,
construíram o placar. O jogo, válido pelo Campeonato do Nordeste, aconteceu na
Fonte Nova em 04 de março. O problema é que, lá adiante, o Vitória devolveu a
diferença com um 3x0 no Barradão, pelo Baiano, em 27 de maio. Em 2001, o Bahia
conquistou o único título baiano em dez anos.
Em
2002 as aparências de que as coisas iam bem permaneceram: num inesquecível 3x1,
em 05 de maio, o Bahia venceu o rival na primeira partida da final do
Campeonato do Nordeste, na Fonte Nova, com gols de Nonato, Sérgio Alves e
Robson. Curiosamente, o Vitória enfiara um 3x0 menos de dois meses antes, no
Barradão, na primeira fase da competição.
Trégua
Apesar do
calvário do rebaixamento no Brasileiro, em 2003 e 2004 o Vitória não voltou a
aplicar novas goleadas. Embora inferior, o Bahia resistia e, aqui ou ali,
vencia um clássico, embora o adversário se mantivesse sempre em clara vantagem.
Afinal, iniciava a saga do seu primeiro tetracampeonato. Em 2005, no entanto,
veio novo vexame: 6x2 no Barradão. A vergonhosa goleada do dia 20 de fevereiro
contou com as assinaturas de Alecsandro, Edilson, Gilmar(2), Claudiomiro e
Leandro Domingues. Dill e Fernando Miguel descontaram. Foi, até então, a quinta
maior goleada do clássico. Mas passou meio despercebida.
Em
2006, primeiro ano do inferno da Série C, pouco se enfrentaram: o Bahia sequer
conseguiu chegar à final do Baiano. Graças ao Colo-Colo, o Vitória não emplacou
o pentacampeonato. No ano seguinte, dois jogos com placar incomum: Vitória 4x2
e 6x5, na Fonte Nova. O tricolor seguia sem provocar sustos no rival.
Em
2008 o Bahia começou a temporada de forma incomum: venceu três clássicos consecutivos
(2x0, 1x0 e 4x1). Esse último jogo foi no Barradão, já pela fase final do
Baianão. Mas, logo na sequência, o tropeço: 3x0 para o adversário no jogo
seguinte, realizado no Joia da Princesa, porque a Fonte Nova estava interditada.
O resultado abriu caminho para mais um bicampeonato do rival.
Nos
dois anos seguintes os placares foram equilibrados: sempre com vantagem, o
Vitória construía o resultado no primeiro jogo e confirmava o favoritismo no
segundo, mesmo perdendo a partida, às vezes. Esse foi o tom de mais um
tetracampeonato do rival e, nos clássicos, vivia-se um equilíbrio aparente. Em
2011, mais do mesmo: a diferença foi o 3x0 no dia 06 de fevereiro, com gols de
Neto Baiano, Elkeson e Rildo.
No
ano seguinte, em 2012, o Bahia finalmente faturou o título baiano depois de 11
anos. O adversário, porém, estabeleceu um tabu incômodo: perdeu o título, mas
não foi derrotado em nenhum dos quatro Ba-Vis. Apesar da indiscutível
supremacia do Vitória, as constantes goleadas pareciam ter ficado para trás: mesmo
com o jejum de títulos, houve equilíbrio relativo nos clássicos ao longo dos
anos 2000, sobretudo a partir de 2006, quando os resultados ficaram parelhos,
até com relativa vantagem do Bahia em algumas situações.
Tsunami
2013
começou totalmente desastroso para o Bahia. Com um futebol ridículo, o time conseguiu
perder duas partidas em casa e foi desclassificado da Copa do Nordeste ainda na
primeira fase. Ganhou 40 dias de folga, com a promessa de ajustar a equipe. A
reinauguração da Fonte Nova se aproximava.
Na
semana que antecedeu o clássico, parecia óbvio que o Vitória era favorito:
embora limitada, a equipe rubro-negra mostrava maior consistência no pouco
competitivo Campeonato Baiano. O Bahia, não: engasgava com adversários
medíocres, em partidas cuja qualidade técnica era sofrível. Resultado: 5x1 no
primeiro Ba x Vi no novo estádio, em 07 de abril. No clássico seguinte, mais
uma derrota: 2x1.
Sobreveio,
então, o tsunami que maturava havia duas décadas: uma goleada vergonhosa por
7x3, na primeira partida da final do Baiano. Marcar igual número de gols o
adversário só conseguiu em 1948. Mas, lentamente, o vexame ia sendo gestado: o
Vitória marcou seis gols duas vezes (em 2006 e 2007), havia enfiado quatro em
diversas ocasiões e mostrava que, mais dia menos dia, o maremoto viria.
Constatações
No
futebol, é consenso considerar goleada a vitória com três ou mais gols de
diferença. Desde 1993, naquele longínquo 11 de agosto, o Vitória goleou o Bahia
14 vezes, conforme indicado acima. Isso sem contar duas vitórias por 4x2, em
1997 e 2007. A contrapartida tricolor é muito mais modesta: foram só quatro
goleadas. Duas delas por 3x0 (em 1998 e 2000) e duas por 4x1 (em 2001 e 2008).
Nesses jogos, o Vitória marcou 61 vezes; o Bahia, 25.
O
efeito direto disso é o saldo da conquista de títulos: são 14 taças conquistadas
pelo Vitória desde então. O Bahia limitou-se a cinco títulos, inclusive o da
contestada final em 1999 que não aconteceu, também atribuído ao rival.
Nos
três últimos anos de funcionamento da antiga Fonte Nova, entre 2005 e 2007, o
Bahia não venceu nenhum clássico. Com a reinauguração, segue mantendo a
indesejada escrita. Caso não vença nenhum dos Ba x Vis do Brasileiro - o que é
bem provável – o tricolor vai amargar um tabu de três anos sem vencer o rival.
É muito sofrimento.
Mas
até quando?
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