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Mobilidade urbana: problema do crescimento econômico?

Durante mais de duas décadas a retomada do crescimento econômico esteve no centro do debate político no Brasil. Lideranças políticas e empresariais, sindicalistas, intelectuais, economistas e trabalhadores engajaram-se em intermináveis discussões à procura do caminho mais adequado para o país voltar a crescer. Embora com várias derrapagens e algumas freadas bruscas – a exemplo da crise mundial que eclodiu em 2008 – o tão desejado novo ciclo de desenvolvimento começou a assumir contornos mais claros a partir de 2005.
Desde então os brasileiros mais velhos se deparam com cenários que não vislumbravam fazia tempo: oferta de vagas no mercado de trabalho, demanda elevada por bens e serviços, massificação do acesso a bens de consumo duráveis e até mesmo contínuas viagens aéreas – até mesmo para o exterior – da chamada classe C, que ainda há pouco patinava na classe D.
A paternidade desse ciclo de prosperidade foi disputada a tapa nas eleições presidenciais de 2010. De um lado, tucanos reivindicando a construção do alicerce; do outro, petistas requisitando os méritos por entregar a obra pronta; no meio da batalha, um emaranhado de legendas alegando participação no processo.
Parece não restar dúvida de que o Brasil ingressou no mais duradouro ciclo de crescimento econômico das últimas três décadas. E que permanece posto o desafio de dar continuidade a esse ciclo, incorporando ao mercado de consumo os segmentos ainda excluídos. No entanto, é necessário também pensar a solução para problemas que o crescimento acarreta.

Mobilidade Urbana

O mais visível dos problemas provocados pelo crescimento recente no Brasil é a mobilidade nos grandes e médios centros urbanos. Alavancadas pela inclinação dos brasileiros para o automóvel, as grandes montadoras encontraram um amplo, estável e promissor mercado nos últimos anos.
Feira de Santana não passou ao largo desse processo e, nas ruas e avenidas, são mais do que visíveis os efeitos do aumento da frota. O trânsito fluente e o silêncio ocasional cederam lugar aos engarrafamentos constantes, ao ronco dos motores e à estridência das buzinas. O caos no trânsito deixou de ser elemento de retórica e incorporou-se à realidade do feirense.
Os dados do Denatran, que atestam essa realidade, são irrefutáveis: em 2009, circulavam pela Feira de Santana 67,2 mil automóveis e 39,6 mil motocicletas. Quatro anos antes, havia quase 20 mil carros a menos nas ruas (47,3 mil) e menos da metade das motocicletas (17,5 mil).

Solução

Dados mais recentes ainda não estão disponíveis, mas devem reforçar a tendência de expansão rápida da frota. Os efeitos são facilmente previsíveis: como não aconteceram intervenções significativas no sistema viário, os engarrafamentos vão se avolumando, para desespero de quem circula pela cidade.
Na contabilidade do Denatran, a propósito, não são considerados os milhares de veículos que visitam a cidade todos os dias. Como a prosperidade também chegou aos grotões interioranos, é certo que houve um incremento no número de veículos que se deslocam para a Feira de Santana regularmente.
O fato é que rápida expansão da frota surpreendeu os governantes; que a ausência de planejamento urbano consistente torna o problema ainda maior; e que o intervalo para a adoção de soluções definitivas foi muito curto. Mas o mais relevante é que o tempo para surpresas passou e que, a partir de agora, são necessárias políticas para lidar com o problema.

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