Embora o retorno do Brasil à normalidade democrática esteja completando um quarto de século neste mês de abril (são, portanto, 25 anos) parece que muitos ainda não se habituaram ao sentido da palavra e, sobretudo, ao exercício de torná-la corriqueira. A reunião do Conselho Municipal de Transportes (CMT), às vésperas da Micareta, atropelando qualquer possibilidade de discussão com a sociedade e visando atender com presteza o sindicato patronal das empresas de ônibus é uma demonstração de que ainda se precisa avançar muito para consolidar práticas democráticas no Brasil.
Marcar uma reunião às vésperas de uma festa com feriado prolongado, com o claro objetivo de atenuar a repercussão negativa junto à população é de uma baixeza e de uma covardia difíceis de descrever. Mas piores, muito piores, foram as notas da prefeitura defendendo intrepidamente os interesses dos barões do transporte na Feira de Santana.
Ocupando a condição de vanguarda do atraso em relação a muita coisa, a Bahia consegue se superar quando se trata de transporte público e mobilidade urbana. Afinal, aqui e em Salvador predominam os interesses do baronato do transporte, que dão as cartas e ditam as regras do jogo.
Por ser capital, Salvador ainda tem uma tarifa um pouco mais condizente com a realidade e conta com uma frota um pouco menos idosa que Feira de Santana. Contudo, não tem metrô (o que está em construção completa dez aninhos em 2010), não tem trens decentes e quaisquer alternativas complementares de locomoção urbana. E, pelo visto, com Copa ou sem Copa, vai continuar do mesmo jeito.
Feira
Em Feira, a frota é velhíssima e o preço da passagem é absurdo. Os veículos circulam empoeirados, nos feriados espera-se por tempo interminável e quem precisa se deslocar para determinados locais da cidade pena esperando os poucos ônibus que fazem linhas para esses locais.
Isso para não falar nas constantes quebras e nos defeitos que atormentam os passageiros e provocam engarrafamentos quando os veículos decidem pifar exatamente na avenida Senhor dos Passos, por exemplo.
Parece que essas razões são suficientes para justificar a manutenção do valor atual da tarifa, calculada através de uma planilha secreta que ninguém que pega ônibus conhece. A prefeitura, no entanto, entende o contrário. Tanto que reiteradamente defende os reajustes, numa sintonia perfeita com o sindicato patronal.
Mudanças
A ausência de planejamento urbano na Bahia é um mal recorrente, mas que se amplifica nos municípios maiores, como é o caso feirense. Sem Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, sem uma política eficaz de mobilidade urbana, sem interação com a sociedade os prefeitos se sucedem na mesmice, sempre recorrendo às mesmas desculpas e às mesmas lágrimas de crocodilo.
O marco simbólico dos 25 anos da restauração da democracia no Brasil deveria induzir à reflexão. Com os sem ditadura, os serviços públicos continuam péssimos em muitos casos, interesses privados atropelam interesses públicos e políticas inovadoras são sufocadas pela mediocridade da maioria dos governantes e dos apadrinhados que são nomeados para cargos estratégicos.
Os recentes episódios do pretendido reajuste no valor das passagens na Feira de Santana mostram, com feliz precisão, o deplorável “caldeirão de cultura” que caracteriza essa situação. Felizmente ressurgem as mobilizações populares que, caso não ocorresse semana passada, levaria a mais um escandaloso aumento no valor da passagem.
Eu gostei muito do texto,mas podia ficar melhor mais informativo e ETC.
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