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Mostrando postagens de junho, 2015

O mito da ressocialização no sistema carcerário

                            Na última semana de maio Feira de Santana figurou nas manchetes dos maiores sites de notícias do país, ganhou espaço nos principais telejornais e, de quebra, rendeu chamadas nas capas de inúmeros jornais. Tudo por conta da rebelião que resultou em dezenas de reféns, diversos feridos e – sobretudo – em nove assassinatos. As cenas da barbárie circularam com velocidade impressionante pela Internet, a partir de milhares de compartilhamentos e de incontáveis comentários. E também foram exibidos exaustivamente nos programas sensacionalistas da tevê.                 Os cadáveres empilhados num canto do pavilhão, a cabeça da vítima, decapitada, depositada como oferenda no pátio, o arsenal apreendido entre os rebelados – as armas utilizadas no motim foram entregues num pitoresco saco plástico – e as declarações hesitantes das autoridades, surpreendidas com o episódio, mostram o aterrador descontrole reinante no sistema carcerário baiano. Sob o impacto da rebel

A Feira de Santana e o longo prazo II

                 Semana passada discutimos a necessidade da Feira de Santana dispor de um plano de desenvolvimento de longo prazo. Algo que abarque um período aproximado de duas décadas: um Feira 2035 ou 2040, por exemplo. A justificativa é simples: embora cresça aqui e ali e melhore pontualmente em determinados aspectos, falta ao município – e a seu entorno metropolitano, como sempre é bom ressaltar – um plano integrado, que aponte para seu futuro num intervalo de longo prazo. E que ofereça não apenas metas, mas também sinalize caminhos para se alcançar os objetivos traçados.                 Mais relevante que os elementos apontados acima, no entanto, é a indicação do conteúdo que deve integrar essa agenda de desenvolvimento. Quais intervenções em mobilidade são relevantes no longo prazo? Quem deve ser mobilizado para implementá-la? Qual o intervalo de tempo razoável para a execução das intervenções indicadas? São questões que o exercício do planejamento ajuda a responder.     

A Feira de Santana e o longo prazo I

Feira de Santana precisa, urgentemente, de um plano estratégico de longo prazo. Algo como um Feira 2030. Ou 2035, caso se adote o convencional intervalo de 20 anos para se pensar o desenvolvimento. E um plano que pense não apenas o município, mas também o seu entorno metropolitano, já que, pelo menos no papel, existe uma região metropolitana. Há quem defenda a tese que o planejamento governamental caiu em desuso depois da ascensão do deus Mercado. Bobagem: a crise mundial está aí justamente para provar o contrário. Há décadas a Feira de Santana cresce sem um rumo orientado. Alardeia-se que o município se desenvolve, que cresce e gera emprego, mas ninguém persegue metas de longo prazo. Não se vislumbra a Princesa do Sertão na qual se deseja viver daqui a umas duas décadas. Horizontes do gênero só estão acessíveis à medida que se promova um planejamento integrado. É claro que a prefeitura, sozinha e isoladamente, não possui estrutura nem fôlego para uma empreitada do gênero. É nec

O Fluminense e a identidade feirense

             Feira de Santana possui uns traços de identidade que foram se desfazendo ao longo dos anos. Um deles era a tradicional feira-livre, que fez fama e projetou a então cidade comercial. Outro, ainda mais antigo, são os olhos d’água, arrimo das boiadas e dos vaqueiros que por aqui apeavam, isso nos primórdios da nossa formação como núcleo populacional, no alvorecer do século XIX. Nos primeiros anos do século XX, experimentamos o impulso inicial da expansão urbana, quando se ergueram majestosos imóveis característicos da tardia belle époque feirense.             Pois bem: a feira-livre transmutou-se, rendendo-se aos imperativos do progresso e se refletindo no funcional Centro de Abastecimento, com sua lógica segmentada. Os olhos d’água foram soterrados pelo descaso com o meio-ambiente e pela irrefreável expansão urbana, que poupou raríssimas lagoas. E os vistosos casarões tornaram-se, ao longo das décadas, discretos imóveis comerciais ou, depois de demolidos, acabaram re

A Capela de Nossa Senhora dos Remédios como relíquia

Todo mundo sabe que a preservação do patrimônio arquitetônico não é o forte da Feira de Santana. É claro que não temos, por aqui, as relíquias observáveis no Pelourinho ou nas cidades históricas do Recôncavo. Mas, ainda assim, o município tinha belezas que datavam do princípio do século XX, vistosos palacetes que aos poucos foram sendo devorados pela sanha do mercado imobiliário e pela escassa consciência cultural dos governantes e da população local. Ainda hoje várias relíquias arquitetônicas vão ao chão para ceder lugar a estacionamentos, por exemplo. As exceções que sobrevivem, portanto, tem que ser valorizadas. Uma delas é a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que é considerada o mais antigo templo religioso de Feira de Santana. Fica na Praça dos Remédios, na esquina com a Rua Tertuliano Carneiro, que até anos passados era um prolongamento da Rua Conselheiro Franco. Registros apontam que, no passado, a vizinhança da igreja era constituída por imponentes sobrados. Até há al